segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Sangue, suor e lágrimas... super ultra mega power Atriz ativaaaar!


Por dentro, eu estava contando os dias para poder vir aqui confidenciar o que aconteceu no dia em que fui gravar meu primeiro diálogo, incorporando minha persona insana non grata. Os caminhos que me levaram até esse dia e o que ele representou na minha vida abominável, inclusive o retorno disso tudo, formam o conjunto da minha obra, de maior sucesso – só perdendo pra Alice.... até porque a Alice é or concour!
Antes de tudo, antes de já chegar chegando, gravando, ensaiamos por nossa conta e risco – o Everson e eu – e tentamos construir uma cena, também por nossa conta e risco – porque em se tratando de Jeam Pierre: prepare-se para o impreparável, meu amor – além de enfrentarmos o texto mais desafiador de todos – não por densidade, profundidade – era uma grande pegadinha em forma de.... parecia um cordel... um trava-língua... um enlouquecedor de atores – e eu já era a louca heeeeeeein, oh que sortuda eu!
Decorar uma peça – não, não quis dizer montagem de teatro, daaaaaaar – dessas, realmente foi meu maior desafio, porque as falas eram curtas e completamente sem nexo – aliás pra quê?... num passa de adereço isso né Jeam Pierre? – que pediam a fala do outro, dependiam dela pra existir e era – não, não tem outra palavra... – LOUCURA!
Mas enfim, voltando... ensaiamos nessas duas semanas que tivemos – traduzindo 2 últimas confissões – ai que mentiiiiiiira!.... na realidade da situação, os planos eram lindos, mas o bicho pegou para o meu lado e o que eram duas semanas garantidas de ensaio, de encontros marcados, se resumiu a apenas dois, espremidos em uma única semana, porque na seguinte o bicho pegou pro meu lado!
Comecei a apresentar sinais – sintomas, pra ser mais franca – que me fizeram crer que eu ia dar um tiute: a virose pirou minha cabeça e o coração....? Quis morrer.... – força de expressão, é claro – desmarquei os ensaios com meu companheiro de cena, morrendo de remorso – é, eu sou dessas – e quase matei o homem do coração – ele apavorou, disse que sem mim, ele não era ninguém.... não com ESSAS palavras.... mas quis dizer.... e eu como não posso perder as oportunidades que me dão, já entrego logo.... e foi liiiiiiindo isso!
Minha garganta pegava e o meu pavor não ficava muito atrás... foi se aproximando o dia e nada... o dia chegou e eu decidi procurar um médico e o querido profissional da saúde me fez tomar o fim da picada – a própria – no bumbum mais soro na veia. Saí de lá intimada a descansar e desistir de ir gravar – não pelo médico, mas pela poderosa chefona que eu tenho em casa – e eu batia pé que me sentia bem, que estava em condições, tentava me defender do indefensável... no fim, me rendi.... – e porque estou aqui escrevendo... ainda?
Até a página vinte, foi até aí o limite dos pontinhos – minúsculos – que entreguei... depois de uma ligação e muita reflexão – incluindo a lembrança do que senti na única vez que faltei na vida – e eu já sabia que a dor de ser obrigada – mesmo que pelo bom senso – a ficar era mil vezes mais dilacerante do que a real que eu poderia sentir. Dor real, eu não sentia, mas me sentia apreensiva, e muuuuuuuito impressionada! No fim, vocês já sabem....
Eu me rendi e saí nos 45 do segundo tempo pra correr atrás do prejuízo... e eu não pensei só em mim, no quanto eu sentiria não gravar, ainda mais depois de já ter tido a oportunidade de me apresentar pra galeeeera – feelings de seu boneco, eu confesso – também pesava ter de deixar o meu companheiro na mão, ele estar lá me esperando e terminar abandonado e frustrado, não seria justo com ele, muito menos comigo, e, contra tudo e contra todos: EU FUUUUUUUUUUUUUUI – ooooowooooo.... tá, parei....
Chegando lá, jurava que estava bem e jurava que achavam o mesmo – o que é o pior – mas não era bem assim... e eu só iria descobrir depois.... no meu presente, meu agora, eu tinha um apoio e estava segura do que queria.... segura na minha insegurança – como eu mesma digo – era o meu tudo ou nada!
Deixei as cartas na mesa e fui franca com o meu companheiro, eu não estava em perfeitas condições – crianças não façam isso em casa – não sentia, mas estava impressionada, vulnerável, frágil, não era cem por cento, mas a força que eu não sei de onde eu tirei, era maior.... maior do que eu....
Ele me aceitou, sabendo disso. E a sorte estava lançada para nós dois. Observamos o jogo todo de cena mudar de figura – e não, não era pegadinha do Advogado do Diabo – as marcações mudaram em cima da hora, o cenário virou mais de um e até à figurantes – nós – e holofotes tivemos direito. O negócio era mais dinâmico e ainda engenhava a construção de uma equipe de filmagem – cameraman + apoio do cameraman + caboman+boom – todos unidos com um único objetivo: gravar sem derrubar o Jeam Pierre e passar com o boom na frente da camera.... ihhhhhh, foram dois...
Enfim, de tanta observação e entre ser figurante e parte da “equipe técnica” da coisa – cena – fomos, finaaaaalmente, fazer a coisa engrenar com a nossa cara. Chegou a nossa vez de gravar e.... faiouuuu.... entrada deu errado, fui autorizada a repetir e daí foi só correr pro abraço: cerca daqui, cerca dali, corre atrás, provoca.... e COOOOOORRRRRRRRTAAAAAAAAAAAAA! Acaba de repente e você fica pensando porque passa tão rápido? Passou.... eu não assimilei.... minha ficha não caiu.... eu só senti.... senti a maravilha que era estar ali, ter feito a minha cena, que era poderosa por ter enfrentado um mundo, e, principalmente à mim para estar ali.... que estar ali me provava do que eu era capaz pelo meu sonho de menina, eu era poderosa – super atriiiiiz ativaaaaaaaar.... não resisti...
Nas nuveeeeens... além das incertezas, inseguranças, na segurança de saber, de ser uma atriz de verdade, sem fugir da raia, jamais! Mesmo entupida e entorpecida – como disseram as más línguas por aí – eu estava presente e mais viva do que nunca em cena, eu vi isso! 
Assisti de camarote e ninguém diria, sequer suspeitaria das minhas reais condições.... não antes de um longo discurso de frear qualquer perfeccionismo e estimular o espírito errante – de errar mesmo – de se arriscar sem medo, de desejar o erro, na certeza de que correr em direção à ele, nos fizesse mais humanos, mais atores.... antes que nos tornássemos múmias, enroladas nas faixas que criamos pra nos atar e sufocar no rumo da perfeição, que é de vez em sempre, inatingível.
Fomos convidados – e mais uma vez – desafiados a caçar o que tínhamos de bom, pra variar, já que o que tinha de ruim já estava sempre em pauta e estávamos ficando irritantemente repetitivos e obsessivos autocríticos. Não precisávamos de ninguém pra quebrar nossas pernas, que já tínhamos nos engessado, entendem?
Analisando com menos crueldade a nós mesmos, nos assistimos.... e eu me maravilhei com o que consegui, até minha voz afinou num ponto em que jamais se confundiria como a Alice, eu soava uma retardada completa e estava extasiada!
Ainda escutei as palavras de anjo do Diabo em forma de preparador.... “sem dúvida, esse foi o melhor vídeo da turma... da noite”.... e aí o êxtase foi total e irrestrito, o prazer não caberia nem em cinqüenta páginas – que vocês sabem muito bem que eu seria capaz de escrever.... mas eu não preciso... a felicidade dispensa palavras.... e eu me basto com essas....
Sei que se morresse ali, naquele momento, morreria.... – feliz? – sem um Oscar.... ou no mínimo.... um Melhores do Ano né, Fausto?... um Quiquito.....? Nem morta, santa!

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Making of do Making of

Making of do Making of
Eu queria falar, dizer tudo que sentia, vivia, guardar de algum jeito cada pequeno detalhe, que me transformava em uma mulher, uma Atriz. Assim, eu criei esse espaço... tão meu.... seu.... nosso.... Aqui, eu tenho a minha coxia em forma de livro... um livro aberto de minha autoria — Renata Cavalcante, 28 anos, carioca da gema, prazer.... — narrando os bastidores da minha memória viva desde a preparação de Jeam Pierre até me tornar atriz da Cia. Grito de Teatro de Santa Catarina, numa evolução que vai do querer ser profissional a ser oficialmente reconhecida como tal — o antes e o depois do DRT, aqui pra você!

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