segunda-feira, 13 de junho de 2011

Capeta, me abraça?


Me vi. Me viram. Caos. Minha primeira impressão ficou menos pior do que eu imaginava.... Minha imagem não era tão ruim no vídeo, passou no meu teste... minha voz não me irritava, embora estivesse baixíssima e rouca em excesso. Riram. E era um drama... daqueles cômicos pra não ser trágico...
Já sabia de antemão que tinha arruinado minha primeira gravação, mas a ansiedade de me ver e principalmente ouvir o que o Jeam tinha a dizer ao meu respeito, me consumia. Sentada ao lado do meu cúmplice, companheiro e colega de cena, quase estrangulei seus dedos, tamanha era ela.
Depois de nos vermos, todos, por inteiro, um a um, tivemos direito a replay. Acompanhado de pausas , cortes estridentes e o temido e aguardado feedback. Minha vez chegou e parecia que eu estava diante da minha sentença no dia do juízo final. Escutar o que escutei, eu pedi pra ouvir, era necessário. Não fui a atriz que passou no teste de Jeam Pierre. Não fui eu, não fui personagem nenhum, ninguém. Me mandaram ao inferno, e eu fui.
Voltei em segundos, em meio às palmas do encerramento de mais um dia juntos, meu olhar caiu e eu desabei, tamanho impacto que sofri. E fui capaz de sentir isso porque estava decepcionada comigo, me sentia a pior das criaturas, das atrizes do mundo. E porque? Não traduzi meu sonho de desde que me entendo por gente em realidade. Não mostrei nada, fui nula. Nada do que eu fiz foi se quer interessante, quanto mais aproveitável.
Acha que sonhar é fácil? Tente subir nas nuvens e puxar um dos seus sonhos ao seu alcance... Eu desafio. Mas quem disse que eu me desafiei? Eu refuguei.... me perdi, inclusive de mim mesma, e não achei o caminho de volta a não ser em prantos.
E caí em prantos diante de ilustres desconhecidos de três meses de uma vida, que parece uma eternidade. Finalmente me renderam e não foi em cena. A cobrança era minha, e a conta só eu podia pagar: me levo a sério... a brincadeira pra mim é séria, e não estou falando só de profissionalismo. Ser atriz pra mim, significa além. É minha vida em várias vidas, é enganar o tempo que reservaram pra mim, é ser, respirar, meu ideal de alguém pra ser, meu melhor lado, minha melhor parte, mais que a minha metade, enquanto Renata.
Disfarçado de preparador, o advogado do Diabo, atiçou fogo no feno e eu me queimei no meu orgulho besta de ser perfeccionista. Que me impediu de ter chegado perto do pouco que me permiti ensaiar, pouco, porque achava que estava ruim. Sou dessas que se não se auto-interpelar e interromper, é capaz de ensaiar até cansar, porque sinto prazer quando o faço... a não ser quando ele, o perfeccionismo entra em cena e rouba ela... além das minhas outras obrigações que me dão remorso...
Ser perfeccionista garante que eu seja inimiga de mim mesma e não precise de mais ninguém pra me derrubar. Me assegura de não sentir satisfação plena nunca, sempre achar uma margem doentia de erro, e encarar o erro como se fosse um fracasso. E atores, além de humanos, são feitos de erros... Errar é natural e uma das partes mais importantes desse processo de ensaiar, é o que faz ele ter sentido. Afinal, ensaios foram feitos para a falha nossa de cada dia, ficar em cada dia, e, nunca extrapolar para o dia oficial de apresentação. E eu estou me redimindo comigo mesma, juro, que ensaio, errando, me permitindo errar, fazendo o que nunca tinha feito até duas semanas atrás... deixando essa sentença em segundo plano, pra encerrar... encontrar meu norte pra próxima gravação, sem esquecer nem deixar de me lembrar de tudo que ouvi nessa última noite de quinta-feira.. 
sexta-feira, 10 de junho de 2011

Hoje....


Aguardem...

Se fui....


quarta-feira, 8 de junho de 2011

sexta-feira, 3 de junho de 2011

And every second I waste is more than I can take... E cada segundo eu que disperdiço é mais do eu posso suportar...


Estou morrendo de vergonha. E pra quem achava que eu não tinha.... minha vergonha ontem foi tamanha, que tenho vergonha até de postar hoje. Estou dramática? Quem sabe é um efeito colateral com delay de ontem... do que poderia.. deveria ter sido e não foi.... Minha tensão foi anunciada antecipadamente via Twitter, minha noite de sono se perdeu e garantiu mais um post. Minha insônia até me lembrou minhas noites pré-estréia no teatro, que sempre eram assim: eu nunca dormia bem. Mas dessa vez foi diferente: eu simplesmente não dormi. Não ensaiei o quanto queria e devia, e todas as vezes que ensaiei não encontrei uma única vez que desse um feeling do tipo "agora tá ficando bom".... muito menos o bom de verdade... não me sentia boa, me sentia tensa.... minha voz não encaixava num texto que pra mim era redondo, tanto lendo quanto mentalizando.... porque pra ser sincera, eu estudei mais no trajeto casa-faculdade, do que em casa... e nesse tipo de cenário, eu não podia erguer a minha voz. Então, pra não correr o risco do constrangimento em público... desnecessário... Eu lia, e tentava me escutar, dentro da minha cabeça, sussurrando pra mim mesma como se dissesse tudo... mas não dizia nada... No chuveiro, também nada funcionava, nem ele me salvava. E enfim, ontem chegou, e eu pra começar bem, me atrasei... Mais tensa? Impossível. Me senti amedrontada o tempo todo. Um porque? Iria fazer o que nunca fiz: um drama. E diante de uma câmera. Começou a me bater todos os fantasmas. Será que eu vou dar conta do recado? Será que não sou nada do que pensava? Enganei todo mundo esse tempo todo? Ou me enganei? Antes, até as palavras do Joaz me vieram a cabeça, que essa é a profissão da insegurança, um ator sempre vai se sentir inseguro. E não sou eu quem sempre se diz segura na insegurança? Essa frase é minha e eu a honrei por anos, não ontem. Me deixei tomar por tudo que podia haver de ruim, e fui péssima. Minha voz não se encaixava nas palavras, prendi minhas mãos nas minhas costas inicialmente, me prendia inteira, estava fora de mim e ganhei um CORTAAA muito bem merecido, alguns puxões de orelha muito bem dados e um empurrãozinho... numa segunda tomada, já estava um tanto mais solta.. mas esquecia, disfarçava respirando, mas errando as viradas, na hora errada.... puxava o ar, como se o ar fossem as palavras que me escapavam do pensamento... e eu pensava? Não.. Eu sofria... essas foram as palavras do meu grande amigo que me acompanhou sala de gravação a dentro... E não era pra sofrer? Eu não tinha um drama nas mãos? Err... era esse o meu grande problema. Nunca dramatizei antes... em cena... (sentiram a ironia? um pequeno toque de humor...) e pra mim ali podia provar se eu era uma atriz de verdade, daquelas que independem da mídia em que estão, elas bastam, ou se eu era só a palhacinha da coxia, a atriz só pra teatro. Não que eu esteja me colocando contra o teatro, que é uma das minhas maiores paixões e que se não fosse por ele, eu não estaria nem aqui escrevendo hoje... Mas é que o meu desejo ao me colocar nas mãos do Jeam, é eu poder. Isso, ter o poder de me sentir inteira sem faltar nenhum pedaço diante de qualquer câmera, set ou um palco que seja, mas ser completa. Entrei nessas aulas com o intuito de evoluir, só assim posso me chamar de profissional um dia e então ser....
Pulei, mas minhas pernas estavam quebradas... fui péssima... estava fora de mim.... mas de três, a última de todas foi a escolhidas pro feedback de semana que vem. E essa minha ópera termina? Daqui a duas semanas, além feedback, quando vou gravar pela segunda e última vez a mesma história. E pra isso vou precisar renunciar...sono... tempo... porque é ele que me falta... comprometimento e perfeccionismo me sobram... aliás ele, o perfeccionismo me deu um encontrão ontem pela primeira vez tão intenso, como eu nunca senti em onze semanas... preciso controlá-lo e me controlar, a ponto de ensaiar e ensaiar e finalmente poder dizer "agora tá ficando bom"...

quinta-feira, 2 de junho de 2011

MUAHAHAHAHAHA....


Demorei. Comecei um zumbi. Não estava em mim. Até que tive que me fazer de morta pra viver. E morrer de olhos abertos, como decidi morrer, achando que tinha encontrado o modelo de morte (fictícia) perfeita, foi pura ilusão, engano meu: prolonguei o sofrimento. Morrer de olhos abertos, te faz enxergar, com os olhos parados, eles precisam morrer antes mesmo de você, e seu corpo morre na medida em que você vai se abandonando, desistindo de lutar por respirar, tentando manter seu máximo de ar no mínimo de movimento aparente e que seja capaz de sentir, ir diminuindo o ritmo, a tensão, ir respirando em slowmotion... tentando deixar a respiração como uma pluma, curta e leve.... E os olhos abertos que veem tudo, te traindo? Eles trapaceam, te passam a perna e te fazem delirar, se enchendo de lágrimas, se fazendo mais fortes do que tudo que você tentou, tentou.... e eu morri na praia! Não consegui morrer com dignidade, não morri... não encontrei uma formula, porque como todos, nunca morremos antes, não sabemos como funciona.... Estávamos mais pra zumbis, levantando ao chamado, e com uma gana de levantar que chegou a duvidar dos meus sentidos, se estava em pé, e o que era que fazia minhas costas pegarem fogo daquele jeito e querer sair correndo... confuso? É foi.... sensações passadas e pessoais que senti raras vezes se iniciaram a uma pequena tontura e um desejo louco de RESPIRAR. Eu já era um zumbi antes de me fingir de morta, nas cenas com princípio e fim do texto que vamos gravar amanhã, eu não me encontrava, não estava ali como devia, fui um zumbi em cena.... E morri sendo um zumbi, ressucitei zumbi. E onde eu ia parar? Descobrindo que tenho mais talento pra matar que ser morta. Minha próxima cena era a chave da técnica da noite, finalmente nela, descobriríamos  como se faz a morte em cena. E não é só o morto, é a morte. E ela presente, nas pessoas envolvidas por ela, como ela os envolve. É isso que mata alguém, tem quem o dê como morto. E para matarmos um colega, sentimos seu peso.... E com ele, eu parti com amor, na minha primeira intenção, mas a voz de um colega começou a me irritar e meu envolvimento com o morto, passou a ser mais passional, passei da irritação ao aborrecimento por não conseguir me concentrar com aquela voz que não se calava e o peso que sentia, não queria mais carregar aquele fardo. Finalmente abandonamos o "corpo" ao chão frio, passei a mão nos cabelos, olhando baixo, olhando pra ele, sem saber o que sentia... até que minha colega de cena, coloca a bala no tambor da arma e eu finalmente puxo o gatilho.... A cena se engatilha, tudo se encaixa, eu estava fria, era uma entre os responsáveis por aquela morte, era uma assassina sem o menor pudor ou arrependimento. Meu deus, nunca senti tanta frieza, queria me safar e ponto. O "corpo" que se livrassem dele e que não deixassem rastros na minha direção. A loucura foi tanta que me perdi de duas colegas de cena, sem me dar conta.... uma delas se apresentou como uma ameaça a mim e ao meu plano B, que tentava traçar depois de tanto caminhar sem sucesso com aquele corpo pesando. Eu não perdoaria uma intrusa, mais uma ameaça ali, já me bastava o remorso pra me tirar do prumo. Então fui de encontro com essa minha colega e a fiz minha refém, ela relutou, mas eu rendi ela, que logo se perdeu..... e não a encontrei mais na cena... a outra alma perdida, surgiu descontrolada, com os nervos à flor da pele e me provocava.. mais até do que a voz masculina inicial, ela era como se fosse o fogo no feno. Então, nosso colega, o dono da voz masculina que me tirou do sério antes, foi o dono da bala certeira e do gatilho que fiz questão de puxar: era ela, a razão para estarmos ali, e eu, arriscando a minha pele, ela era a cabeça por trás de tudo, a mentora do assassinato... com aquele trunfo, eu parti pra cima dela.... e COOOOOOOOORTAAAAAAAAAAAAA!
A ópera, enfim se resume: o assassinato, envolveu o morto em uma trama, que fazia dele um morto, e nosso envolvimento todo nisso tudo nos fez estar numa cena onde havia morte, morte mesmo. Uma morte de mentirinha, mas com uma cara de verdade, que assustou. Nosso mortinho da Silva, quando foi chamado de volta, ressurgiu das cinzas feito Fenix, querendo voar... tamanha agonia que sentiu e nós todos envolvidos com ele na cena, contribuímos pra ele se sentir pior: afinal estávamos brigando sobre como se livrar dele. Loucura? Sem nós, ele não estaria morto, literalmente, na brincadeira toda. E o mais incrível foi de onde eu parti e pra onde eu fui no final? Minhas primeiras intenções amorosas perderam pras intenções de quinta de uma assassina fria, cruel e calculista que se revelou aos poucos pra mim. Ironicamente, essa era a personagem que eu tentei em um teste na semana antes. A personalidade era praticamente alma gêmea da outra, mas essa minha personagem era minha, com todos os direitos reservados, desde a técnica à loucura que me envolveu. Fazê-la me fez ir na sombra, ir mais no fundo.... bem no fundo...  e desejar mais uma vilã....  mais vilãs.....

Eu e meu parceiro do início da noite nos reencontramos e completamente mexida, e sob efeitos colaterais e especiais do exercício da nossa técnica um tanto quanto, fui aos céus, terminei carregada nos braços dele, comemorando, porque finalmente consegui dar de mim o bastante, pra ser as duas partes, que dava o texto e que o recebia, personalidades, personagens opostas e eu consegui até aquele ponto, finalmente, pela primeira vez fazer a virada da sofredora pra vilã e dar a ele as costas.

Making of do Making of

Making of do Making of
Eu queria falar, dizer tudo que sentia, vivia, guardar de algum jeito cada pequeno detalhe, que me transformava em uma mulher, uma Atriz. Assim, eu criei esse espaço... tão meu.... seu.... nosso.... Aqui, eu tenho a minha coxia em forma de livro... um livro aberto de minha autoria — Renata Cavalcante, 28 anos, carioca da gema, prazer.... — narrando os bastidores da minha memória viva desde a preparação de Jeam Pierre até me tornar atriz da Cia. Grito de Teatro de Santa Catarina, numa evolução que vai do querer ser profissional a ser oficialmente reconhecida como tal — o antes e o depois do DRT, aqui pra você!

Ibope