terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Antes que acabe, preciso confessar....



Confessar que corri um campo inteiro de futebol, corri cantando sem repertório, corri cantando o hino nacional, corri ao redor de um chafariz cantando Mundo Ideal, cantei em público pela primeira vez na vida, e pela primeira vez de novo, peguei num microfone pra cantar de verdade, eu atingi um agudo! – praticamente lírico , eu juro....
Mas antes do agudo, entre ele e tanto correr, eu aprendi a respirar de novo, a me equilibrar numa base nova, a pegar coreografia de verdade! Fui do céu ao inferno, em todos os sentidos, me arrastei num limbo de berros desesperados e berrei – como berrei – fiz de três pontos um conto tragicômico, trabalhei panturrilha, fiz flexão, até abdominal inverti!
Cantei, dancei, atuei de uma só vez, fiz musical – mesmo que rudimentalmente – pela primeira vez... eu dirigi, aprendi a rir dos meus erros e a deixar meus devaneios de perfeccionista de lado pra variar....


Eu me preparei... me preparei pra um grande sonho, que começou no sonho de alguém e no encanto que se fez quando assisti The Best Of Broadway, meu primeiro musical, estou me preparando: teatro físico, clown, pequena sereia na pedra, sapatilhas mágicas, saltos do tamanho do mundo! Por que sim, agora eu tenho! Sapatos de dança me dei, pra riscar meus novos passos.....
Passos de uma base firme, de pés bem colados ao chão, distanciados pela largura dos ombros, firmes, cabeça ereta no ar e olhar ao horizonte, e toda a tensão do mundo que vá pra coxa, pés, chão, fuja de mim!
Apoio, respirar, puxar ar pela boca, guardar nas costelas pra cutucar os cotovelos, fazer o ar dançar, fazer miséria, virar nota, bater no peito, na nuca, no alto da cabeça, juntinho do nariz, e sair em forma de canção..... eu fiz.... lições de canto até isso eu fiz....
Passei por poucas e boas, boas e poucas.... estou inspirada, bastante inspirada, avançando.... saltando entre ensinamentos, aprendizados e mestres – entre eles o meu galã – para hoje estar de volta ao berço, à JP Talentos, ser uma das crias de Gringo Starr, de novo um bebê em frente às câmeras, além de um bebê de palco – depois de um convite daqueles – .... um bebê da Broadway..... eu confesso!
As primeiras palmadas já foram, o primeiro chorinho e o primeiro berro também... tudo que tinha de primeiro e intenso pra ser feito, e que eu nunca me imaginaria fazendo, eu fiz.... e confesso que vou continuar fazendo..... – a não ser que acabe realmente tudo de vez! 
quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Até que a morte nos separe... e eu fuuuuuui a noiva do Oscar!



É chegada a hora, minha gente....eu escrevi, escrevi e escrevi mais de 50 páginas..... e todas com um único objetivo: essa noite....  essa grande noite!
Me casar com o ofício de ser atriz... e foi nesse sábado que passou – dia 15/9 – que finalmente me uni pela lei dos homens e do Sindicato dos Artistas à categoria de Artista/Atriz profissional,  numa grande cerimônia de coroação desses 18 meses de preparação com o Advogado do Diabo e sua supervisão atenta. 
Fomos unidos à profissão por meio de um documento registrado, carimbado, assinado e extremamente ansiado por 9 de cada 10 atores e atrizes: o Registro Profissional – o famoso DRT.
E essa história dessa nossa união estável, matrimônio com a carreira num é que me subiu à cabeça?.... Tanto que, literalmente, eu fui a noiva da noite! Não só pela 1 hora e meia de atraso – eu disse 1 HORA E MEIA DE ATRASO – que acabou atrasando tudo, mas estava eu desde a véspera, na noite anterior, pegando esse espírito da coisa, sem conseguir dormir nem parar de pensar – principalmente de ansiedade, por não saber como iria ser minha make, pra ser bem franca.... confesso que estava completamente mulherzinha na expectativa.... 
Independentemente disso, meu dia começou muito antes, caindo da cama às 6h pra dar tempo de organizar minha humilde residência e dar plantão na frente da lavanderia pra fazer o resgate do vestido de noiva quase perdido, nisso, perder carona pra ir fazer a organização da estrutura pra grande noite, correr pra fazer depilação – mulher sofre – e ir de cabide no bus rumo ao salão, porque a organização, mesas, toalhas, cadeiras e arranjos ainda me esperavam..... além de um churrasco político de terrorismo com as minhas narinas, me tirando o foco da labuta organizadora.... com direito à puxão de orelha e tudo e tals.... afinal deveria me comportar bem, não importasse à agressão que meus sentidos recebessem, ou qualquer espécie de traição que me provocassem....
Enfim.... depois de tudo muito lindo, bem arrumado, organizado e extremamente transparente,  nos separamos e partimos cada um para o almoço. Do almoço à produção, um caso à parte..... – vamos focar na produção, produção? 
Ai... ai.... essa foi digna de noiva, eram dois profissionais no cabelo, uma na make e outra nas unhas.... teve momentos em que estavam todos em mim, todas atenções voltadas na minha pessoa, me senti importante e curti muuuuuuito meu momento de Penélope Charmosa, terminando Beyoncé: de moicano – topetão, now put your hands up o/ – num rabo de cavalo daqueles de levantar qualquer crina, litros de spray, quilos de make importada, resumo da ópera saí que era uma estrela pronta pra brilhar e balançar o coreto, estremecer o cronograma..... correndo contra o tempo.....
Nunca me vesti tão rápido na vida e ainda saí sem nem me despedir direito, pra ir de encontro com o trânsito morbidamente lento da BR..... praticamente infartando no carro de tanto nervoso e ansiedade – noiva feelings – ainda “deu tempo” – hahaha – de me perder e eu cheguei – como já estraguei a surpresa – exatamente uma hora e meia além do programado.
Tipo: a noiva entrando e causando, com direito a entrada anunciada e tudo. Ainda deu pra recuperar o fôlego, bater uma, duas fotos, apertar o nó frouxo atrás do vestido e me preparar pra desfilar até meu assentinho marcado próximo ao altar..... – diga-se de passagem, eu como modelo sou uma excelente atriz....
Todo um cerimonial em nossa honra, com apresentações que variaram entre discursos motivacionais, poéticos, muita música e até piada – eu mesma, me auto-ridicularizando..... bulliyingnando ai.. ai....
Enfim, consegui de improviso fazer – o que eu acredito depois que me assisti – stand up.... caí nas graças, provocando algumas gargalhadas gostosas quando resolvi dar conta bem do meu jeito de homenagear o Advogado do Diabo.... e me convenci que se não acabar em nenhuma novela, em nenhuma companhia, dá pra me virar como comediante e não morrer de fome.... – dilema de sobrevivência resolvido, pai, mãe, a palhaça da casa se sustenta na base da palhaçada, oh que beleza!

 
Concordam? 
Bem, depois de mim.... veio mais uma pessoa ainda render homenagens ao Jeam, depois ainda, se não me engano, vieram duas colegas minhas apresentar um texto que eu escrevi – à pedidos, sob encomenda – em homenagem aos pais, uma delas não se conteve e deixou as lágrimas rolarem quando tinha que dizer em voz alta algum trecho, que agora eu não vou lembrar qual era, mas enfim, me matou por dentro ver aquela loira linda e deslumbrante – Rapha, que dúvida  sem se importar com a maquiagem ou o que fosse, com os olhinhos claros inundados, deixando as lágrimas rolarem pelo rosto, isso realmente me comoveu, me tocou bastante, e me provou definitivamente – caso eu não tenha percebido ou duvidasse que minhas palavras causam efeito . Logo mais, algumas palavras em vídeo do nosso grande cerimonialista de coração, o gordo – WMarcão – e por fim palavras de Jeam. Para encerrar de fato, a voz de diamante do meu galã – mezzo playback, mezzo a capella de surpresinha...
Enfim, uma noite encantadora, que encerrou uma era. A nossa era. 
De quebrar todos os recordes da história e da carreira do Jeam, sendo a maior turma que ele já formou, e, com direito à toda pompa e circunstância!...Marcamos ele, e, definitivamente, saímos marcados por ele!
Eternamente abomináveis...
Um título, um espírito de ser, um orgulho que vou carregar pra sempre de ter sido: uma das Abomináveis,  preparada por Jeam Pierre Kuhl – a honra foi toda minha!

Sem ele, não haveria começo, não haveriam os caminhos que percorri e que me levaram para os que estou hoje..... difícil de parar..... 

domingo, 9 de setembro de 2012

Season finale de Pierre, DRT em minha vida.... e mais inspiração.....



Tanto se passou... tudo se passou... finalmente fiz a prova final do Jeam, que de prática não teve nada e foi extremamente intrigante – inteligente, aliás a mais que fiz nos últimos tempos – depois veio a do SATED – Sindicato dos Artistas – que perto da do Jeam até me decepcionou.... mas enfim, como vocês estão de prova – sem trocadilho com as avaliações – meu caminho até o famoso DRT – Registro Profissional de Atriz – foi chorado, suado e sangrado, não foi só de uma ou duas avaliações dissertativas. 
Considero todo o processo, os 18 meses inteirinhos, pra fechar a conta... e eu fechei.... com sucesso! Saí mais consciente e ciente do que realmente é ser uma Atriz e profissional, graças ao choque de realidade que levei do Advogado do Diabo, à ele mesmo!
Tirei meu registro profissional, mas estou longe de ser uma, pessoalmente, sinto que cresci, envelheci e rejuvenesci – nasci de novo. Parece que tudo está começando... e está.... agora virei adulta na profissão mas ainda me sinto uma criança por dentro e por fora.... só vou me sentir grande mesmo, quando conseguir ser completa, uma artista completa.... – interpretando, cantando e dançando....
 Isso quer dizer que a inspiração não terminou.... e recomeça aí – claro que nesse meio tempo me envolvi em um projeto que me trouxe um dia para respirar e relembrar como era de verdade gostoso fazer uma leitura de mesa com direito à saga atrás de comer após.... no fim, terminamos num final precoce porém nada infeliz, já que me envolveu onde estou agora..... e é bom sair dos parênteses, não é mesmo?
Então, hoje estou envolvida em um novo estilo de preparação de atores, de musical! Minha preparadora não tem nada de diabólica, é o extremo oposto: minha fada-madrinha-musical Tina Yoshizato!
Com ela, tudo é mágico.... encantador.... a profissão toma forma, cor... trilha sonora.... tudo se transformou... eu já me transformei em 1 mês, que foi uma loucuuuuuura.... 
E, me lembrar que conversando num passado não muito distante, eu temia o que seria de mim depois do curso.... depois do Jeam.... Hoje não só continuo firme no propósito de ser uma atriz profissional, como ganhei o novo de ser completa – sem querer me repetir, já me repetindo....
Mas não vou estragar a surpresa.... em breve vou revelar passo a passo dessa preparação nova... dessa nova estrada que estou ousando me arriscar a percorrer....  enquanto issooo, fiquem com um pequeno teaser do me inspirou a entrar nesse novo universo – BROADWAAAY....


Foi a partir daí, do primeiro musical que assisti na vida "The Best of Broadway", que eu me vi no palco  –  até aí nenhuma surpresa, isso sempre ocorre quando estou assistindo uma peça  –  mas eu me vi com aquele cabelo, aquele figurino, aquela maquiagem.... dançando..... não precisava estar cantando  –  porque eu tenho bom senso  –  enfim, me vi como a protagonista real da história, que queria abandonar esse mundo pra viver naquele de sonho que se apresentava no palco.... 
E o que antes era só admiração por ver alguém cantar – Jamil Vigano, Tiffy e cia Grito ilimitada – e uma vontade que eu tinha de começar a fazer aulas  –  pentelhando séculos o  próprio Jamil a respeito –  tudo passou a se encaixar numa única performance.... ali naquele palco, tudo passou a fazer sentido.... e o universo conspirou.... agora é só confessar.....
segunda-feira, 3 de setembro de 2012

As cortinas fecham, abrem e vem a luz.... Aquela gota que faltava....





E tudo começou com uma bacia, depois virou um foco de luz... mentiiiiiiiiira!
Começou mesmo aprendendo a andar e caminhar, montando na sela no cavalo – maneira meiga de associar rapidamente o andar cênico no teatro. Temperaturas e mais temperaturas de voz e movimento.... Alongamento, Absurdo, Brecht, Stanislavski, teste e reviravolta na vida pessoal, provocando meu afastamento por um mês – eu disse UM MÊS FORA DOS ENSAIOS.
Um processo completamente avesso à tudo que já vivi no teatro antes, um tanto enlouquecedor com um fundo de enriquecimento – não posso negar – mais requintes de uma estranha solidão – independente da minha ausência em si – já que o teatro é em essência uma arte de grupo, coletiva por natureza. Sensação de falta de comunicação, direção e marcação. Proposital, sei que não foi – até porque isso foi me dito com todas as letras – mas teve um propósito bastante intrigante, que eu não sei se entendi até agora.
No fim, ensaiar sozinha, por minha conta, adiantava o meu processo.... e um processo que, vou contar pra vocês, que foi uma montanha-russa..... montanha-russa de direção, marcação e cena – porque não?
O que era só uma cena de água com bacia, virou bacia e água, várias nuances, até chegar na bacia com água e música! Num misto de Iemanjá e Samara (O Chamado), eu – repito – quase enlouqueci tentando acompanhar o raciocínio da diretora, tentando me encontrar dentro do espetáculo que ela via na cabeça dela.
Nos apresentamos duas vezes – ao menos, eu considero assim – uma bastante intimista só pra calouro ver, numa das salas do Doze e a outra no palco do Pedro Ivo – mas dessa eu vou falar já já....
Quero falar da primeira, primeiro – que oficialmente só foi um ensaio geral com público – pois pra mim foi a mais intensa, a que mais bateu fundo, era como se eu estivesse no palco, eu sentia como se aquele chão de sempre, tivesse se transformado, e mesmo com tudo improvisado – sem cenário, luz, maquiagem – foi extremamente profissional e me marcou por eu ter trabalhado minha voz como nunca trabalhei antes, fui pro grave – não me pergunte como – e cantei – continue sem fazer perguntas – e dei meu texto, fiz minha cena com uma paixão, que eu nunca tinha encontrado antes!


Não consegui agradar muito minha diretora – não agradei mesmo – com toda essa performance que fugiu de tudo que ela queria, mas fui notada, percebida e elogiada por uma das presentes, o que me surpreendeu de um jeito e me envaideceu ao ponto de fazer meu olho brilhar diferente, me fazer iluminar de dentro pra fora – sem perder a linha.
Mesmo assim, a maior interessada não estava feliz, e como pra atriz aqui, autoridade máxima é a direção, dei meu jeito de desconstruir toda a cena uma semana antes de ir ao palco – sendo que num ensaio extra as marcações e a cena em si se transformou completamente 2 dias antes...
Enfim, cheguei ao Pedro Ivo..... passei lá com meus colegas de cena e palco um dia inteiro até finalmente cair a noite e soarem os três sinais – intermináááááveis  numa escuridão dos infernos entre reclames da JP – chamadas mais chamadas sem fim....
E no fim, entre a tensão muscular e distensão – no sentido de relaxar mesmo – finalmente a cortina se abriu ao som do samba que abriu nosso espetáculo e a luz que faltava atrás das cortinas se revelou na ribalta fulminante – não querendo quebrar seu encanto, mas já quebrando, se você me viu chorando no início da peça, não foi emoção, foi a luz mesmo que me feriu os olhos. 
Foi diferente.... diferente daquela primeira apresentação.... diferente de todas as vezes que já pisei num palco.... eu estava calma.... estranhamente calma.... fria....
Antes, me encantei com o teatro que era lindo, com a marcação de luzes – que não me lembrava de já ter feito – me dando conta que ia ter um foco todo em cima de mim – efeito inédito na vida, que dirá na carreira.....


Na hora h, pra valer, enchi minha bacia além da conta necessária, e quando saí, tinha um peso muito maior pra carregar até a minha marca, o que se traduz num rastro molhado da coxia – bastidor, lateral de palco, por onde atores entram e saem, meus queridos – isso tudo, com meu cabelo completamente na cara – como a foto mostra – no meu melhor estilo Samara saindo do poço, repousei minha bacia lindamente – nem sei se foi tão lindo assim – e lá fui eu me lavar – estranhamente quase sem me molhar – cantando o samba que me deram, abri os cabelos e encarei o vulto de imensa escuridão na minha frente – sentindo pouco calor humano bem próximo e imaginando no fundo da minha consciência que o teatro estava completamente vazio...
Num dado ponto do monólogo – também primeiro da minha vida num palco – começaram a rir e não era por mim, era pelo estilo Samara adentrando o palco, mas na hora eu encarei como se estivessem achando graça do meu drama – ao menos na minha cabeça era isso que eu estava fazendo e aí eu fiquei com raiva e o resto todo saiu espumando pela boca..... – e eu de tanto levar a sério o que dizia, não percebi a graça que tinha na desgraça de texto que eu anunciava com os lábios.... – sentiram a sutileza?


Queriam que eu assustasse, acabou que saiu ao natural – o objetivo da cena era fazer quem me visse se sentir mal... horrorizado consegui um efeito beeeeeem significativo, quando me levantei e fiquei de pé, realizando toda a energia raivosa que estava – vide foto de cima senti o ar pesar e parar de expectativa e até um suspiro alto eu escutei e aí tudo se encaminhou pro fim da minha participação solando.
Depois voltei à cena para fazer composição de cenário – cenas que pedem mais gente pra dar credibilidade ao que está acontecendo ou aonde está acontecendo, nosso caso era o que estava acontecendo: barraco – e voltei ativamente para fazer a cena da macumba – ahhhh a cena da macumba – de desfecho da nossa história, agora eu era praticamente a vingança da minha personagem – porque voltava ainda nela, só que em pleno terreiro – mudei a postura, o “penteado” – taquei o cabelo todo pro lado – e fui tacando pétala de rosa vermelha pelo palco, finalmente resolvi destoar do “coro” – de coral – das macumbeiras e dei vida à um daqueles gritinhos clássicos “Valei-me meu pai” e riram.... e eu me espantei – estranhamente e de novo, só que dessa vez, não tive acesso de raiva – cheguei a pensar em repetir a dose, só que ponderei se ficaria de bom tom e me auto-sabotei, me dei uma censurada básica....
Muito mais tarde, descobri que minha colega, que era a última a entrar jogando as flores e cantando, voltou pra trás – pra coxia – pra respirar fundo por conta do bendito gritinho e eu morri de rir, mais ainda quando finalmente descobriram que fui eu a autora do grande caco da noite – improviso, texto que surge na hora, que não tava no script...
As cortinas tinham se fechado, a gota que faltava finalmente caiu, o copinho transbordou.... fomos aplaudidos de pé pelo público e pela crítica – de quem mais? Advogado do Diabo e a Luz que era nossa diretora – sobrevivemos, enfim....
Eu sobrevivi, mesmo achando que estava mergulhada no caos – e realmente estava profissionalmente e pessoalmente falando – mas eu consegui segurar as pontas, não desistir, arranjar forças, inspiração – na Joana de Ana, na Ana enfim. 
Conquistei meu espaço sem saber que tinha conquistado um de fato, quando me revelaram que jamais pensaram em me cortar do elenco pelas minhas faltas, pois eu conquistei um artigo de luxo durante o processo: respeito.
Senti meu espaço aumentar e curti cada instante que me confiaram, me senti honrada com as palavras que escutei na nossa última noite de feedback final e eu vi a Luz brilhar.... até nas últimas palavras de feedback do Advogado do Diabo, que viriam logo depois, vieram calmas e extremamente coerentes.
Agora eu sei.... devo ir além... muito mais além!
sexta-feira, 11 de maio de 2012

Meus melhores momentos de todos os tempos com Jeam Pierre Kuhl...



E é com o eco das minhas próprias palavras que eu vou começar a recapitular.... – hoje vai ser um pouquinho diferente de sempre.... – fazer uma retrospectiva aqui e agora. E eu sei bem que do ponto em que paramos, acabaram-se os encontros e ensinamentos com o Jeam, portanto, o mais natural seria passar para a transição dos módulos da TV e do Cinema para o do Teatro, não seria? – seria.... mas aqui não.....
Aqui, o tempo me pertence e eu vou usar e abusar dele pra voltar atrás – pela milionérrima vez.... eu seeeeei... a licença poética e os miniflashesback me permitem – reler tudo que passei nas mãos do Jeam Pierre  – de mais importante.... marcante – e, principalmente, a forma como ele me inspirou a transformar isso tudo nisso, nesse espaço que temos aqui, voltar a escrever – afinal foi ele que me trouxe aqui... caso, você não saiba.... ele sabe.... – e enfim: traduzir em palavras, momentos....
De cara, as partes em aspas lá de cima – que eu fiz questão dar o primeiro destaque da noite – são da época da primeira gravação – pra sentirem o drama... digo, o processo.... – era um momento particular do começo de tudo, onde eu vivia os baixos e altos – necessariamente nessa ordem – do meu primeiro gravaaaando pra valer com Jeam Pierre.... falta de preparo à parte, insegurança, medo e todos os temores, no meio desse caos, eu me refugiei aqui, me encontrando em algumas palavras que acabam me escapando.... de improviso... instinto...todas as razões que me trouxeram aqui e à vida de Jeam Pierre.. uma a uma, elas se revelaram e eu não poderia querer um início de narrativa melhor.... 
nunca segui um roteiro de verdade... 
mas dessa vez, nessa noite eu vou arriscar....

Das aspas, tudo que as provocou existir e tudo que veio pela frente, foi um grande empurrão: a realidade nua e crua – que eu nunca experimentei – da profissão.... a dureza, a crítica.... o retorno... e raros momentos que valem por uma vida inteira.
Momentos esses que eu separei pra nós, dessa vez se repetirem – porque o que é realmente bom a gente repete e ainda pede mais – os melhores de todos os tempos em TV e Cinema com Jeam Pierre Kuhl.... tchurumtchurum.....
Confissões minhas – juro.... vai que tem algum leitor novo perdido? – escolhidas a dedo, mostrando como construí minha carreira de abominável... indo desde a minha primeira segunda chance de um segundo take, que me leva à tão ansiada primeira lágrima em cena, passando pela Alice, minha primeira construção de personagem digna de gente grande – meu maior orgulho – indo pela louca que me fez enlouquecer junto com ela – praticamente me sacrificando para não deixar de entrar em cena – e termina finalmente na Tonia, minha primeira vilã com retorno imediato do Advogado do Diabo e comparsas – brincadeirinhaaaaaaaaa.....
Enfim, passada a sinopse, aí vão as marcações, devidamente narradas:
Em primeeeeeeeiro lugaaaaaaar, pesando lágrimas cênicas, ela: Me confessando, enfim, feliz....
Em seguuuuuuundo lugarrrrrr, pesando uma personalidaaade e tanto, embarquem de novo no encanto de: Às mil maravilhas de Alice + Alice in HD-land
Em quuaaaaarto lugar, vocês me tem SARCÁÁÁSSSSTICA e cruel em: Thuruleft...thuruleft..... + ...E eu... me lixei, sem me lixar.

A releitura é mágica, isso eu garanto – e não devolvo seu dinheiro de volta – porque nela você enxerga o quanto eu cresci.... que nem só de amargura é feita a construção – concepção – de um artista: se trabalha duro sim, mas uma hora – senão mais de uma, como eu acabei de recomendar a leitura – chega num olhar, num gesto, numa palavra: a recompensa.... que pode não ser de ninguém, mas sim de si... sem ser um Oscar... um Melhores do Ano.... um Quiquito.... – não que eu dispense nenhum deles....
Mas que quando parte de dentro pra fora, é mais especial... porque quando você faz algo que te toca e que ainda consegue tocar alguém, você vai além.... e ir além, foi tudo que eu sempre quis e desejei desde o começo de tudo.... – lá em cima ainda estão as aspas pra provar....
Sendo franca? Eu cheguei pra fazer o teste com o Jeam completamente ignorante no que diz respeito.... a tudo: nunca tinha estado diante de uma camera – gravado – antes e dali em diante, não parei mais de estreiar na vida – na arte... enfim.... confunde – era no drama, na preparação, no fracasso, no sucesso.... principalmente na humanidade... com requintes de desumanidade....
Meses com o Jeam me fizeram definitivamente mais humana – e desumana – mais intensa do que minha personalidade já me permitia, mais auto-crítica – num duelo constante entre a razão e a emoção de ser e estar, perfeccionista ao extremo – e resistente... e realista...
A carreira não permite fraqueza, exige de nós, ser fortaleza. Devemos nos armar de emoções e defesas para sobrevivermos, não temos o direito de fraquejar, a não ser que seja em cena. Jogo de cintura e postura são essenciais, discernimento e timing, então, nem se fala. A maldade existe e vai se fazer presente, não se iluda: não é só de magia que esse mundo é feito, mas de gente grande, que é grande o suficiente pra te engolir, se não estiver preparado além do que qualquer mortal.

... Aqui entre nós: eu envelheci uns dez anos nas mãos do Jeam – e o agradeço por isso – e estou mais consciente, e principalmente ciente do que é preciso – e do que eu preciso – para chegar aonde quero.... – e aonde quero vai longe do que olhos podem alcançar e dinheiro pode conquistar...
Me permitir à oportunidade e à sorte de viver mais de uma vez nessa vida e aproveitar que vivi o bastante, pra saber viver de uma vez, como Renata...
Várias vidas numa só... além de mim.... sabendo fazer o retorno, o caminho de volta sem me perder.... e esse é o maior aprendizado aliado ao meu sonho, que eu posso carregar pra nunca me esquecer daquele que será para sempre inesquecível – GPS que me guiou nos primeiros passos – Jeam Pierre Kuhl.

No fim, é isso.... tudo isso que tinha pra hoje: reconhecer e dar os devidos créditos à quem os são devidos... e partir, enfim, pra abertura das cortinas.... pra Luz....


segunda-feira, 30 de abril de 2012

A última das moicanas... quem sabe Sócrates explica?



E antes que se esqueçam – ou eu – ainda gravamos depois... e recebemos todo o retorno possível – e impossível – vocês sabem muito bem de quem, pela última vez...
Se me perguntarem como foi... e se eu disser que não sei, vão me chamar de mentirosa... mas dessa noite em especial pouco ficou pra recordar....
Sei que gravamos na frente de todos, que daquela vez – talvez por ser a última – era diferente, se era o ar, o clima, o timing, o feeling, não sei...
Não sei de muita coisa... sei que nada sei – Sócrates nunca fez tanto sentido...
Mas olhando aqui meus rabiscos e me lendo em forma de lembrete – usando e abusando da minha memória emotiva, porque não sou de ferro sei exatamente de tudo que realmente interessa: como me sentia enquanto gravava.
E eu estive lá de pé, diante daquela câmera, respirando fundo... olhando pra baixo e tentando trazer dos pés à cabeça o que o chão me trouxesse, como se fosse capaz de viver uma emoção a partir dali... mas não eram dos meus pés, eu queria que eles puxassem ela pra mim... e nisso, um dos ensinamentos dolorosos da noite anterior me valeu: eu tinha que sentir... e eu senti....
Sabem o que eu senti? Calor.... me subiu – ou desceu – um calor por tudo quanto era lado, costas, nuca.... – geralmente esses dois lugares quando se aquecem, querem me dizer que realmente estou envolvida, estou em cena – e isso com os pés pressionando o chão e as palavras me abandonando os lábios.... ali eu tinha plena consciência de que tudo partia do meu corpo, do contato que ele tinha com a superfície, da pressão que eu provoquei entre os meus dedos e ela.... até minhas mãos buscaram a inspiração do chão – à distância, claro – então tudo parecia fazer sentido, a tal teoria de Pierre que afirmava que o corpo era o verdadeiro condutor das emoções, era uma verdade ali pra mim, naquele momento...
E eu acreditei nisso.... e como sempre, não sabia o que esperar de mim no vídeo.... se passaram as instruções que o Jeam me passou antes de gravar, as apresentações de todos – menos uma – sem que eu sequer gravasse, registrasse na memória... tanto que me resta pouco a dizer, a não ser de alguém que já admirava e passei a admirar mais ainda depois dessa noite: Jamil Vigano.
Se existissem cinco estrelas, um Oscar pra dar, por conta daquele exercício seria dele.... – como realmente foi, porque fazer o Advogado do Diabo tirar as fitas do bolso....
Ele foi sóbrio, limpo e intenso.... soube trabalhar a intensidade como ninguém, num texto que arruinou praticamente todos – inclusive a mim, sem saber – e ele tinha aquele olhar que arrastava multidões, ele era enfim, um galã de verdade – como eu já o chamo carinhosamente nos bastidores.
Chamou – inclusive ele não sabe o tanto – a minha atenção com a dicção e a desenvoltura da cena dele.... algumas outras – uma, pra ser mais exata – me chamou atenção também... tenho esse feeling.... mas lembranças que é bom....
E a gravação se sucedeu pela tradicional sessão de esporros e considerações ala Jeam Pierre. Nos assistimos como sempre, e o feedback veio à cavalo.... e o meu? À galope.
Nem nos meus piores pesadelos, eu me imaginaria em cena como eu me vi e eu murchei.... naquela hora – eu não sabia na hora – eu só sabia que nada sabia.... – Sócrates, explica?
De repente, em poucos de minutos, me convenci que estava vivendo um dejavu dos meus piores momentos de todos aqueles meses de aula – da pior crítica que uma atriz poderia suportar e duvidei do meu aprendizado, da minha capacidade de aprender com os meus próprios erros e enfim, de aprender – por mais redundante que possa parecer...
Na verdade, eu me negava a acreditar que fosse capaz de cair nos meus erros e repetí-los de forma tão estúpida... me senti estúpida e nem um pouco atriz – aliás muito loooonge disso.
E na sequência dessa sucessão de erros repetidos, veio a crítica mais que justa, e também, repetida. Talvez cruel, talvez sei lá mais o quê, talvez... mas foi principalmente: merecida.
Minha gravação correu o risco de não ser exibida naquela noite, por falhas técnicas – ela não constava nos cartões de memória – e eu fui ameaçada de realmente não tê-la exibida e de finalmente ter que gravar tudo de novo – sacrifício?.....
Quase fui sacrificada... – quase no fim, ela estava lá e eu preferia que não estivesse.... preferia que a profecia de bastidor tivesse se cumprido e eu nunca tivesse assistido o que eu assisti.
Senti que foi um erro, assim que terminou, me decepcionei comigo e sabia que não conseguiria me consolar... e até hoje não consigo, se olhar pra trás... mas sei que dali em diante, eu soube exatamente o que não queria ser, o que não suportaria de mim...

O interessante do fracasso, é que por se chamar assim, ele dificilmente é encarado com sobriedade ou como estímulo para se atingir o sucesso, ele é só visto como o seu oposto. Para quem teve o coração aflito como o meu, a garganta embargada, a cabeça atraída pela parede e os olhos se rendendo em lágrimas a ponto de borrar toda uma maquiagem e se entregar frágil, vulnerável, derrotada, como eu me entreguei naquela noite, era impossível.
Eu não me encontrava em posição de me aceitar ali no fim de tudo como quando entrei.... mas me esqueci, no meio de toda a raiva, de todo o turbilhão, de que eu entrei naquele curso pra errar, e eu entrei nele, porque realmente era capaz de dar conta do recado.
Enfim, voltar a ser como eu era, não era ruim, mas era – isso sim impossível, e eu era incapaz de discernir ali no calor do momento.... desmoronei diante do caos que eu mesma me proporcionei, sem ter a consciência de que eu era incapaz – aí, sim – de ter voltado atrás e regredido, porque o tempo nunca volta atrás, muito menos nós....
Podemos até conseguir repetir as atitudes, mas nossa postura nunca... eu caí no mesmo conto, estando plenamente consciente de corpo – coisa que jurava ter vivido, se me perguntassem e ainda juro – sendo que nunca vivi isso antes nem sonhei em.... prova de que tanto na vida como na arte não se pode rebobina a fita....
Conclui finalmente do que eu realmente fui capaz: de errar de novo, inspirada nos meus próprios erros.
Precisei de meses para vislumbrar o fim do túnel, estando no seu fim – porque eu realmente não me senti no fim da jornada com o Jeam, porque ela realmente não começa nem termina nele, mas sim em mim.... porém, contudo, entretanto, todavia, nossos encontros acabavam ali... – eu não senti.... – mesmo agora, eu não sinto – mas cheguei lá, aonde tinha uma luz, que se chamava Ana e não era minha colega de cena.... mas isso é um assunto para o nosso próximo encontro....
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Aiiiii... NÃOOOOOOOOOOOOOOO... ME FLAGRARAM, PRODUÇÃO?


E quando eu paro pra pensar no que foi essa segunda noite de preparação... UAU... no quanto esperavam e no quanto eu esperei pra finalmente colocá-la em palavras...
MAIS UAU AINDA!!!
Mas o espanto não mora só nessa expectativa tão minha, quanto sua: nossa... de começar logo... mas já vem pelo começo em si: quando chegamos vimos estranhos, pessoas estranhas e logo um burburinho se formou no ar... teorias das mais conspiratórias e delírios de toda sorte... – e azar...
No fim das contas, não vou precisar com exatidão os momentos, de um jeito que diga o que aconteceu antes do que, então sintam-se livres pra imaginar e ir além junto comigo dessa vez... preparados?
Lá vou eu!... Depois desse primeiro impacto diante de estranhos – que eu vou explicar lááá na frente quem são, o que são e pra quê estão aqui... o que realmente importa saber é: estavam lá pra nos flagrar e não eram paparazzi – e de alguma conversinha preliminar com o Jeam, fui colocada em trio com dois grandes amigos e colegas de cena mais um ser inédito – alguém com quem estudo, mas nunca estudei... deu pra entender?... não?... um colega, que nunca chegou a ser de cena... agora posso voltar? – e formamos o que era pra ser alguém condenado entre aspas com dois algozes e um defensor.... na primeira levantada – por livre e espontânea pressão e vontade – de mão se escolhia o condenado – personagem contador da grande história, personagem do texto – e eu que posso dizer... hesitei e o ser inédito levantou a mão.... ele se tornou o alvo da roda que formaríamos entre nós. Numa segunda chance – que parecia ser oportunidade – eu levantei a minha mão de imediato e me tornei a defensora – que graça... porque eu não fiquei quieta hein?... agora alguém duvida da minha alma de vilã indomável?... preciso aprender a me domar e a ser mocinha... mas enquanto isso não acontece... – e os outros dois – queridos – colegas se tornaram algozes – muito mais divertido... tá, parei – e enfim, começamos a brincar pra valer: de policial e bandido – e sem trocadilhos, mesmo tendo um realmente oficial entre nós – numa caçada divertida, tentando fazer o pobre diabo se trair e se confessar dando o maior passo de todos que alguém no mundo podia dar... e francamente?
Fiquei um tanto desapontada com nosso pobre diabo na roda... ele estava muito engessado, parecia uma múmia enfaixada no texto, era como se uma folha de papel fizesse parte dele, como se a vida dele dependesse de escapar o rabo do olho pra aquelas linhas impressas cheias de letrinhas – era muito desespero pra pouca causa... e eu como advogada e defensora, imagina como ficava?... não ficava, EXATAMENTE!.... brochava...  – mas enfim... entre mortos e feridos – e, inclusive, a passadinha de diabinho do Jeam pra fazer o menino construir uma relação, um passado e a peça mais importante do jogo mais as nossas instruções pra chegar à esse tesouro – salvaram-se todos!... eu acho...
Passamos dessa pra uma melhor, fomos pro chão... agora? Fomos... só não sei se agora... mas é agora que vai, eu vou: sentei no chão – eu e geral – primeiro pra ouvir o Jeam cantar trechos do texto em nossos ouvidos feito música, que nós tínhamos que dançar – traduzir no corpo em movimento as palavras, as pequenas histórias de cada trecho – e sabe como eu fiz?... dancei?... pensa numa mulher se contorcendo, indo da posição fetal à posições que eu nem me atrevo a dar um nome – nem sei se tem um – agora eleva isso ao cubo e abra bem seus olhos, para encarar a realidade – capturada da que capturaram...




Sentiram?... e em segundo, paramos pra ver o Jeam demonstrar uma tática muito da engenhosa de se preparar um ser para se atingir uma intensidade além do que podem imaginar em alguns instantes, vai parecer um tanto polishop ou personal trainner da minha parte, já vou avisando que só dá pra ser assim, só lamento, prestem atenção: é só ficar de quatro no chão e ir se esticando aos poucos no chão, como quem quer se deitar de bruços – sem nunca chegar à – porque o segredo é justamente é viver essa tortura, essa agonia de sentir até o cotovelo espraguejar – no seu pensamento – e quando você não suportar mais e quiser se libertar – literalmente – do sofrimento físico – deixo bem claro – existe uma única palavra mágica que pode te soltar dessas amarras que a técnica e a preparação diabólica do Jeam te impõem... três letras e uma única sílaba... aquela que você quando era bebê aprendeu antes do que qualquer outra e sem ela jamais aprenderia nada nem começaria a cena de agora: NÃO. Mas não era qualquer não, era um não que traduzisse em som toda a dor e o sofrimento que seu corpo passou por culpa do esforço sacana que você fez ele passar, era esse o propósito... e nós vimos o Jeam servir de modelo, de cobaia... de exemplo – quem diria.... brincadeirinha... nunca deixou de ser...
E, depois dele, era a nossa vez... detalhe pequenininho pra uns e enoooooooorme pra outros: estávamos sendo filmados – e nada daquele sorria... sob pena de ser degolado pelo preparador – no pior e melhor momento.... dependendo do ângulo de quem vê.. ou não... estava eu de quatro, querendo me esticar.... quase me esticando.... esperando a dor chegar, praticamente uma grávida esperando a contração e quando ela vem, sabendo, porque alguém sempre diz, que tem que fazer força, toda a força que tem e que não tem... Aqui a minha contração era a traição dos meus músculos do braço, podiam ser os joelhos, mas foram os braços, definitivamente eles... e quando eles não me suportassem, não me agüentassem mais – meu peso – eu iria fazer uma força... a força tamanha de um NÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO só meu: esgoelado, arranhado, berrado, doído, sofriiiiiiiido... era um monólogo inteiro cabendo em um som – assim como meu grande amigo e galã Jamil Vigano sabiamente disse no fim...
Mas não chegamos nem nos aplausos.... portanto, preparem-se para fortes emoções – mais fortes ainda do que as que eu já confessei – voltamos a formar uma grande roda e em mais um momento altamente inspirado, nosso preparador mor e mestre Pierre acenou com um simples pedido com requintes de intimação – oportunidade – de ter alguém no centro das atenções da roda imediatamente e eu já sei o que vocês estão pensando e eu também pensei nisso... pensei em me levantar, mas a prudência me segurou no pedaço de chão que ocupava e lá se foi a Bella, mais um ser foi convocado e lá se foi o Tiago – meu fiel leitor – e mais uma vez alguém foi chamado e eu já estava a postos e fui de uma vez – aleluuuuuia.... é, eu escutei daqui, seus exageradinhos!... E enfim, mais um, o último – um dos meus companheiros de cena prediletos, o Everson – se juntou à nós... pra quem se perdeu nas contas, fechamos em quatro seres abomináveis no centro das atenções.
O primeiro casal formado – não com essa intenção, se acalmem aí, porque a cena não pedia – pela Bella e o Tiago que seriam os acusados – os pobres diabos culpados, cada um no seu quadrado – por mim e pelo meu companheiro Everson, respectivamente – pra vocês verem que nem tudo é o que parece, os casais se desdobraram em duplas invertidas e do mesmo sexo, como ninguém previa... e quando é que a gente prevê alguma coisa?
Enfim, inicialmente era pra eu provocar a Bella, fazer ela confessar um crime quer ela tenha cometido ou não – dentro do script, vale dizer – fazer ela se trair.... e eu não poupei ela nem esforços meus e fui pegando ela pelo braço, sacodi, desafiei – excelente – e eu não via mais ninguém além dela e da minha sede de fazer ela cair do cavalo... – isso quer dizer que eu desconfio que os meninos do lado foram pelo mesmo caminho.... só desconfio... – até que o Jeam mandou partir pra cima e ninguém sabia o que fazer.... ele foi e desenhou que era pra ficar por cima da pessoa, de quatro, com chance de imobilizar – eu nem preciso dizer que adorei, preciso?...praticamente uma campeã de MMA falando, se sentindo no octógono... – os meninos – nessa hora de receber as instruções eu vi – que eram os mais envergonhados e constrangidos, perderam pra nós, donzelas, quem diria? Eu me aproveitei da situação, queria mais era ver o circo pegar fogo e quando eu recebi o aval – porque eu perguntei com todas as letras o limite – do Jeam, que disse que só não queria ver arranhão e puxão de cabelo, eu me realizei: parti pra cima da Bella como ele mandou, agarrei ela pelos pulsos e fuzilando com o olhar, metralhando com as palavras, fazendo questão de não deixar ela sequer ter tempo de pensar no que ia falar ou dizer, querendo que ela se traísse.... e ela podia revidar, mas teve medo de me machucar – bonitinha ela né gente... e eu que antes cravei as unhas nos braços dela e fiquei sacudindo, nem pensei em poupar.... sou uma ogra mesmo.... – e no fim, ela realmente não conseguia mais pensar, não sabia mais como reagir, eu fui a arma, o Jack Bauer, o Capitão Nascimento em forma de gente e foi revigorante pra mim, esses instantes, essa cena, essa tática de....
Pressionar, qualquer estúpido consegue, mas fazer isso sem perder as estribeiras, isso requer um nível um pouco acima... e se permitir pressionar, níveis além também! Quer dizer que o que eu fiz não teria sido a metade sem o que eu recebi de volta da Bella – em mais uma parceria sensacional – claro que eu tive o estímulo – não tive medo de partir pra cima – e eu abracei o desafio, e, quis desafiar, mas um desafio não é nada sem o outro lado: o desafiado. Ali era tudo muito claro – agora que estou aqui, óbvio, que não ali no calor do momento – que a intenção era se sentir acuado ao ponto da verdade vir à tona, fosse ela qual fosse... era gerar um campo de pressão, onde até o pensamento fosse barrado, qualquer capacidade mínima de se racionalizar uma maneira de se defender, tudo passava a ser nosso, físico, parte a parte, extremamente natural, desde a frieza do chão contra as costas até o peso de quem estivesse por cima – creio eu que foi muito bem calculado e pensado, pra causar a pressão física, a sensação fiel de realidade ao que estávamos experimentando... todos os pontos ao Jeam, por isso... realmente genial da parte dele, ou de quem ele aprendeu com.... enfim... – e pra quem estivesse por cima, a sensação de pesar, e, por, pesar de sentir o poder, se sentir poderoso, por saber que está sob controle, controlando a vontade e a ação do outro a seu favor, se a intenção era fazer com que se traísse, era só pressionar com precisão, entupir os ouvidos e os olhos de informação, que nunca cessa, acusação que nunca termina, tendo razão ou não....
E sabem no fim, o mais me impressionou? Quando tudo se acabou, até o Jeam já tinha passado por nós, tentado arrancar o texto da Bella e ela não conseguia nem falar nem pensar, e tudo já tinha passado, já estávamos sentados conversando sobre como tinha sido tudo e ela me disse, sentadinha do meu lado, já não sei se antes ou depois, ela falou – desconfio que antes, porque agora me lembrei que foi depois disso que ela sentiu que devia falar – falou pra mim... – é estou repetindo, pra ver se eu, mesmo hoje, ainda acredito que escutei mesmo essas palavras – "sem você, eu não teria conseguido naquela hora" e isso vale mais que mil feedbacks... eu me senti grande, enorme, importante, alguém de verdade... uma atriz de verdade.... uma companheira de cena de verdade...
E depois eu falei à câmera como tinha sido tudo e ela capturou... na verdade tudo que eu senti... e foi ao ar... nem tudo que capturaram de nós em ação, é verdade... mas fomos parte de um programa que iria, como eu, mostrar o que o Jeam é capaz de fazer pra formar quem quer ser – ou acha que é – em ator... atriz como eu, de verdade!
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Las Usurpadoras y el cinturón de la preparación del Diablo!


A essas horas já era pra ter acabado, né? Texto finito – afinal já gravamos, assistimos, recebemos feedback, e não é sempre aí que terminam os trabalhos?
E quem disse que acaba quando termina?
Aqui é tudo sempre imprevisível, não se esqueçam.... a instabilidade é o nosso sobrenome menor, porque o maior é pressão. Então, não, não acabou quando aparentemente terminou, porque terminamos não com um ponto final, mas com reticências nosso último encontro, que iam além dos três pontinhos, eram uma promessa: íamos sentir como essa cena ia ficar boa de verdade.
Entrou na arena, de um lado a prepaaaaaaraçãoooooo de atooooooores, e do outro nós. E do embate dos dois: o Advogado do Diabo nos fez enxergar e entender por meio de interrogatórios, quem era o ser que estávamos representando, sua personalidade, seus ideais e principalmente a sua versão da história, sua bagagem e a definição da sua real posição perante à personagem que iria confrontar em cena.
Essas respostas, eu encontrei sozinha e em acareação com a minha colega de cena. Os moldes pareciam esses mesmo, como se brincássemos de policial e bandido – pelo menos eu me sentia bandida... UUUUUUIIIII... e sabia que era! – e estávamos mesmo, buscando primeiro em si, depois no outro, num trabalho que parte de dentro pra fora e reflete. E que além de reflexão de si, provoca a reflexão no outro também.
Não só a ruindade da minha personagem que quando viu a da frente se debulhando em lágrimas, pensou imediatamente ahhhhh vai chorar? – no tom mais sarcástico que vocês puderem imaginar – ... chamou ela de otária e se sentia mais malandra e esperta do que nunca, mesmo que não ultrapassasse a linha do deslumbre e da cegueira por ambição... fuzilava com o olhar, com ar de “superioridade” diante da fraqueza da outra. Se achar por cima da carne seca, comendo filé mignon.... ela não prestava, continuando a mesma VAAAAACAAAAAAAAAAA de antes, com um bônus – que não deixa de ser ônus – ela foi turbinada pela preparação dos diabos de Pierre, que deixou a personalidade dela tão dilatada, que chegou o meu racional apitar junto dela, me impedindo de inverter ela, subverter a sua vontade, voltar atrás e fazer dela, arrependida – ela não aceitou e nem eu confesso, eu defendo a minha cria, minha obra... e além do mais a dramaticidade era tanta na minha frente, que eu mesma não ia tolerar ao quadrado.
Era todo um conflito de interesses, vontades e personalidades, embasado pela análise fria das minhas intenções junto das intenções que a minha colega me apresentava, chegamos à conclusão – eu e ela – de que não suportaríamos nem um minuto, nem dentro, nem fora de cena. Minha colega se demonstrava abalada de uma forma, que se eu baixasse a crista da minha personagem, cairíamos na Usurpadora... no embate das Paulinas ao quadrado... no Apocalipse.... em 2012, no fim dos mundos.... então era melhor pra minha sanidade pessoal – profissional – e principalmente de quem estivesse de fora, que eu continuasse sendo a minha cover de Paola versus a Paulina Carla dela.
A nossa graça estava justamente no antagonismo, no meu olhar que fuzilava, no riso frouxo de deboche, nas mãos e na agressividade dela, me respondendo, na raiva que ela tinha nos olhos junto da ferida que eu tinha aberto e que fazia questão de deixar em carne viva. A provocação e o revide é que faziam da nossa cena interessante e da nossa dinâmica mais dinâmica que a própria.
As dinâmicas, os exercícios a que fomos expostas e testadas, deram uma forma mais clara, mais bem definida, certeza, enfim, uma alma. Tínhamos agora um pano imenso de fundo, que fomos tecendo aos poucos, a cada comando, a cada movimento. Construímos, essa é a palavra, o verbo que conjugamos.
Foi o que nos ensinaram todas as táticas do Jeam: a criar uma cabeça, uma mente e a consciência de uma história, além de respeito às vontades da sua personagem e às suas próprias também – tolerar, intolerando – transgredir, sabendo bem os limites que erguemos e pré-estabelecemos.... e eu até podia continuar conjecturando, mas até o ano já está acabando... – e não, você não está bêbado... pelo menos, eu espero que não esteja, porque leitor bêbado, comenta bêbado... enfim.... o ano já virou faz uns 2 meses já, eu sei, mas aqui, vira é agora!
2011 finda nessa confissão, que só confessei agora que vivi – e até peço desculpas pela falta de maiores detalhes, sempre ando com eles na manga, mas o tempo fez eles escaparem dos meus dedos, contra a minha vontade... e eu tentei hein, não passar por cima... não deixar nada em branco e nada ficou.
A certeza da cena que fiz nesse hoje – que não pertence à hoje – e da personagem que construí, é que foram com corpo e alma. E acabo com ela – a alma – lavada, na certeza até onde fui, foi só o começo e de que vocês não perdem por esperar.... num piscar de olhos.....
Agora, VEEEEEEEM, 2012, VEEEEEEEEEEEEEEEEEM!!!!!!!



Making of do Making of

Making of do Making of
Eu queria falar, dizer tudo que sentia, vivia, guardar de algum jeito cada pequeno detalhe, que me transformava em uma mulher, uma Atriz. Assim, eu criei esse espaço... tão meu.... seu.... nosso.... Aqui, eu tenho a minha coxia em forma de livro... um livro aberto de minha autoria — Renata Cavalcante, 28 anos, carioca da gema, prazer.... — narrando os bastidores da minha memória viva desde a preparação de Jeam Pierre até me tornar atriz da Cia. Grito de Teatro de Santa Catarina, numa evolução que vai do querer ser profissional a ser oficialmente reconhecida como tal — o antes e o depois do DRT, aqui pra você!

Ibope