segunda-feira, 30 de abril de 2012

A última das moicanas... quem sabe Sócrates explica?



E antes que se esqueçam – ou eu – ainda gravamos depois... e recebemos todo o retorno possível – e impossível – vocês sabem muito bem de quem, pela última vez...
Se me perguntarem como foi... e se eu disser que não sei, vão me chamar de mentirosa... mas dessa noite em especial pouco ficou pra recordar....
Sei que gravamos na frente de todos, que daquela vez – talvez por ser a última – era diferente, se era o ar, o clima, o timing, o feeling, não sei...
Não sei de muita coisa... sei que nada sei – Sócrates nunca fez tanto sentido...
Mas olhando aqui meus rabiscos e me lendo em forma de lembrete – usando e abusando da minha memória emotiva, porque não sou de ferro sei exatamente de tudo que realmente interessa: como me sentia enquanto gravava.
E eu estive lá de pé, diante daquela câmera, respirando fundo... olhando pra baixo e tentando trazer dos pés à cabeça o que o chão me trouxesse, como se fosse capaz de viver uma emoção a partir dali... mas não eram dos meus pés, eu queria que eles puxassem ela pra mim... e nisso, um dos ensinamentos dolorosos da noite anterior me valeu: eu tinha que sentir... e eu senti....
Sabem o que eu senti? Calor.... me subiu – ou desceu – um calor por tudo quanto era lado, costas, nuca.... – geralmente esses dois lugares quando se aquecem, querem me dizer que realmente estou envolvida, estou em cena – e isso com os pés pressionando o chão e as palavras me abandonando os lábios.... ali eu tinha plena consciência de que tudo partia do meu corpo, do contato que ele tinha com a superfície, da pressão que eu provoquei entre os meus dedos e ela.... até minhas mãos buscaram a inspiração do chão – à distância, claro – então tudo parecia fazer sentido, a tal teoria de Pierre que afirmava que o corpo era o verdadeiro condutor das emoções, era uma verdade ali pra mim, naquele momento...
E eu acreditei nisso.... e como sempre, não sabia o que esperar de mim no vídeo.... se passaram as instruções que o Jeam me passou antes de gravar, as apresentações de todos – menos uma – sem que eu sequer gravasse, registrasse na memória... tanto que me resta pouco a dizer, a não ser de alguém que já admirava e passei a admirar mais ainda depois dessa noite: Jamil Vigano.
Se existissem cinco estrelas, um Oscar pra dar, por conta daquele exercício seria dele.... – como realmente foi, porque fazer o Advogado do Diabo tirar as fitas do bolso....
Ele foi sóbrio, limpo e intenso.... soube trabalhar a intensidade como ninguém, num texto que arruinou praticamente todos – inclusive a mim, sem saber – e ele tinha aquele olhar que arrastava multidões, ele era enfim, um galã de verdade – como eu já o chamo carinhosamente nos bastidores.
Chamou – inclusive ele não sabe o tanto – a minha atenção com a dicção e a desenvoltura da cena dele.... algumas outras – uma, pra ser mais exata – me chamou atenção também... tenho esse feeling.... mas lembranças que é bom....
E a gravação se sucedeu pela tradicional sessão de esporros e considerações ala Jeam Pierre. Nos assistimos como sempre, e o feedback veio à cavalo.... e o meu? À galope.
Nem nos meus piores pesadelos, eu me imaginaria em cena como eu me vi e eu murchei.... naquela hora – eu não sabia na hora – eu só sabia que nada sabia.... – Sócrates, explica?
De repente, em poucos de minutos, me convenci que estava vivendo um dejavu dos meus piores momentos de todos aqueles meses de aula – da pior crítica que uma atriz poderia suportar e duvidei do meu aprendizado, da minha capacidade de aprender com os meus próprios erros e enfim, de aprender – por mais redundante que possa parecer...
Na verdade, eu me negava a acreditar que fosse capaz de cair nos meus erros e repetí-los de forma tão estúpida... me senti estúpida e nem um pouco atriz – aliás muito loooonge disso.
E na sequência dessa sucessão de erros repetidos, veio a crítica mais que justa, e também, repetida. Talvez cruel, talvez sei lá mais o quê, talvez... mas foi principalmente: merecida.
Minha gravação correu o risco de não ser exibida naquela noite, por falhas técnicas – ela não constava nos cartões de memória – e eu fui ameaçada de realmente não tê-la exibida e de finalmente ter que gravar tudo de novo – sacrifício?.....
Quase fui sacrificada... – quase no fim, ela estava lá e eu preferia que não estivesse.... preferia que a profecia de bastidor tivesse se cumprido e eu nunca tivesse assistido o que eu assisti.
Senti que foi um erro, assim que terminou, me decepcionei comigo e sabia que não conseguiria me consolar... e até hoje não consigo, se olhar pra trás... mas sei que dali em diante, eu soube exatamente o que não queria ser, o que não suportaria de mim...

O interessante do fracasso, é que por se chamar assim, ele dificilmente é encarado com sobriedade ou como estímulo para se atingir o sucesso, ele é só visto como o seu oposto. Para quem teve o coração aflito como o meu, a garganta embargada, a cabeça atraída pela parede e os olhos se rendendo em lágrimas a ponto de borrar toda uma maquiagem e se entregar frágil, vulnerável, derrotada, como eu me entreguei naquela noite, era impossível.
Eu não me encontrava em posição de me aceitar ali no fim de tudo como quando entrei.... mas me esqueci, no meio de toda a raiva, de todo o turbilhão, de que eu entrei naquele curso pra errar, e eu entrei nele, porque realmente era capaz de dar conta do recado.
Enfim, voltar a ser como eu era, não era ruim, mas era – isso sim impossível, e eu era incapaz de discernir ali no calor do momento.... desmoronei diante do caos que eu mesma me proporcionei, sem ter a consciência de que eu era incapaz – aí, sim – de ter voltado atrás e regredido, porque o tempo nunca volta atrás, muito menos nós....
Podemos até conseguir repetir as atitudes, mas nossa postura nunca... eu caí no mesmo conto, estando plenamente consciente de corpo – coisa que jurava ter vivido, se me perguntassem e ainda juro – sendo que nunca vivi isso antes nem sonhei em.... prova de que tanto na vida como na arte não se pode rebobina a fita....
Conclui finalmente do que eu realmente fui capaz: de errar de novo, inspirada nos meus próprios erros.
Precisei de meses para vislumbrar o fim do túnel, estando no seu fim – porque eu realmente não me senti no fim da jornada com o Jeam, porque ela realmente não começa nem termina nele, mas sim em mim.... porém, contudo, entretanto, todavia, nossos encontros acabavam ali... – eu não senti.... – mesmo agora, eu não sinto – mas cheguei lá, aonde tinha uma luz, que se chamava Ana e não era minha colega de cena.... mas isso é um assunto para o nosso próximo encontro....

Making of do Making of

Making of do Making of
Eu queria falar, dizer tudo que sentia, vivia, guardar de algum jeito cada pequeno detalhe, que me transformava em uma mulher, uma Atriz. Assim, eu criei esse espaço... tão meu.... seu.... nosso.... Aqui, eu tenho a minha coxia em forma de livro... um livro aberto de minha autoria — Renata Cavalcante, 28 anos, carioca da gema, prazer.... — narrando os bastidores da minha memória viva desde a preparação de Jeam Pierre até me tornar atriz da Cia. Grito de Teatro de Santa Catarina, numa evolução que vai do querer ser profissional a ser oficialmente reconhecida como tal — o antes e o depois do DRT, aqui pra você!

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