sexta-feira, 9 de setembro de 2011

As cenas dos próximos capítulos e um capítulo...


E quem disse que tudo acabou quando as luzes se acenderam e os créditos subiram? 
Rebobina aí o DVD...
Aproveita e faz uma pipoca com guaraná, porque eu te garanto fortes emoções...

Naquela mesma noite que não terminou  não no fim da exibição das últimas gravações  recebemos nosso novo script, que dessa vez era uma missão impossível em forma de texto... – minha primeira impressão depois que li pela primeira vez... e ela permanece...
A história da vez é envolvente e comovente. Um drama em high definition. E eu que achava que já tinha feito drama – culpa do Jeam desde o teste, porque antes eu jurava que era engraçadinha, só tinha feito comédia... que coisa...
Nunca tive um texto tão sério na frente dos meus olhos... e não é exagero, nem dramaticidade minha em excesso – mesmo eu tendo de sobra, pra dar e vender... principalmente na minha vida privada, nada entupida – querem ter uma pequena noção do que eu estou falando e do tamanho da seriedade dessa história? O Advogado do Diabo trouxe um ator pra nos contar uma história que envolvesse o texto como um todo – com início, meio e fim – agora chuta aí quem...
Ele mesmo, o próprio Jeam Pierre Kuhl – recuse imitações.
É... eu juro! Ele resolveu brincar de ser Ator... e se revelou sendo um... – contraditório? Não... é irônico mesmo... e um tanto perturbador...
É que, de cara, eu não achava que estava diante de uma cena... me via diante de uma conversa de preparador pra elenco... Até que chegou um momento em que a história que ele contava foi ficando profunda  tão profunda  que eu cheguei a me perguntar será que ele tá só dando instruções? xequemate!!!
Eu duvidava do que parecia mais lógico e racional, do que era real – eram instruções, só que em forma de espetáculo, que ele dava, sem cobrar um cachê se quer... 
Ver ele atuar foi intrigante, porque ao mesmo tempo em que eu duvidava do que ele dizia, quase acreditava... se não o conhecesse, eu caía feito uma pata – quase caí... se é que não caí.... eis a questão... 
Ele foi interessante – no sentido mais enigmático possível... vide entrelinhas, quem for capaz.... 
E ele foi profundo... profundidade era a palavra de ordem dele, nosso comando principal, nosso AÇÃO de um mês de duração... Ele queria essa profundidade de corpo inteiro, no olhar – sem choro nem vela – e, diante da história dele. Ele exigiu que compuséssemos as nossas próprias histórias e realizássemos a mesma façanha que ele – aí, é que morava o perigo... até pra mim...
Entendam: a história contada pelo Jeam, foi tão bem bolada, que eu ainda fiquei com ela, os dois dias seguintes na cabeça... mas sem coragem, nem audácia, de usar nos meus ensaios – ele deixou isso terminantemente proibido – e não conseguia imaginar uma história melhor... até... a página vinte...
Quando eu menos esperava, a minha história começou a se esboçar pra mim... ela foi se desenvolvendo e terminou em três paginas de ficção... e elas é que me conduzem para o texto oficial... me dão um norte só meu até a minha personagem – que ainda não ousei dar um nome...
Sei que antes das minhas páginas, eu me perdia, me pegava pensando na história do Jeam e lutando pra não construir nada parecido... e eu acabei indo além... além até do que eu imaginava... Esse texto me fez parar pra analisar uma história de um jeito, que eu não fiz antes – eu não ignorava – porque não enxergava com a lucidez e a maturidade de agora. Antes de escrever a minha história de fundo pra história principal, fiquei imaginando – perdida – como eu ia fazer com tudo que eu aprendi com a Alice, pra se encaixar... Depois, com a história, eu descobri – me descobrindo – numa nova forma de encontrar alguém pra ser em cena, e desenvolvendo isso, pensei meu Deus, eu nunca fiz isso de verdade... estou fazendo isso de verdade agora....
Senti isso muito forte... eu nunca tinha de verdade estado numa cena, eu brincava de estar.... era como se só tivesse brincado disso esse tempo todo, agora parecia ser de verdade, coisa de gente grande mesmo e me fez sentir grande. 
Eu era amadora – não que tenha deixado de fazer por amor nem tenha deixado de ser, ou me tornado profissional – eu encarava tudo de uma forma tão intuitiva: era ler o texto, interpretar, captando as primeiras e segundas intenções, e traduzir isso em entonação de voz pra reproduzir. Agora eu sei que é mais... é muito mais... é mais que brincar com a voz diante das linhas: sou eu inteira! E isso só passou a fazer todo o sentido do mundo pra mim agora... a brincadeira ficou séria de verdade... estou fazendo e me envolvendo de verdade, me apoderando da história – texto, porque o dia que eu me apoderar do negócio em si, nem sei se vivo pra contar a história...
E me dividi nesse antes e depois diante da Alice e dessa história... com a Alice eu vivi teatro de verdade e com a da vez, estou vivendo drama pela primeira vez de verdade... e é do jeitinho que foi com o teatro, eu já ensaiei fazer drama antes... e agora, parece que eu estou vivendo um drama de verdade... me sinto debutando...
Debutando no jogo de olhares, no close absoluto... e em me sentir Wagner Moura encontrando Capitão Nascimento, ansiando o saco da verdade... – masoquista? nope
Primeiros efeitos, depois que se passou uma semana entre as intenções e a execução delas – dando a deixa... próximo capítulo agora... – e que me deixaram marcas e traumas pro resto da vida – juuuro... não... eu minto... mas uma raivinha, eu passei... 
Meu problema foi levar o Jeam à sério demais como eu levei. E a seriedade com que eu encaro esse homem é tanta, que eu acredito piamente quando ele diz que vamos gravar, quando não vamos – e é só mais uma pegadinha do Advogado do Diabo metido à malandro – e principalmente quando ele diz que vamos experimentar uma preparação pra Capitão Nascimento nenhum botar defeito, estalando pedaços de pau nos ombros de alguém...
Sofri, confesso.... fiquei rezando por dois algozes em especial e renegando todos os outros... já me imaginei roxa e tendo que improvisar satisfações... – mas pedir pra sair? JAMAIS!
E era maaais uma pegadinha do Advogado do Diabo... incluindo, inclusive, ele alegando falsas escoriações e lesões de almas de abomináveis passados – e eu ali, levando a maior fé...
Mas enfim... os pedaços de pau não eram pra bater, eram cordões umbilicais... funcionariam – e funcionaram – como extensões da ligação entre dois corpos – eu e meu parceiro de cena – que ligados, então, deviam fazer seu cordão dançar e interpretar com o olhar, de acordo com a trilha sonora de fundo – preciso dizer o quanto eu amei isso? Eu sempre tive a minha, pra todas as quintas, todos os personagens... vocês sabem disso... mas ter uma em aula... ahhhhhhhh... E a maior ironia da história toda? Foi o ritmo das músicas do Jeam bater com o ritmo que eu escolhi pra faixa principal da minha...
Com ela, teve também a dança das cadeiras, que não podia faltar e não deu pra enjoar nem entediar... – como se desse... uhum... – foi extremamente dinâmico – como o nome da própria aula dizia...
E houveram momentos... de passar o texto, colocando a boca pra funcionar... de colocar ela em ação de frase em frase, dando continuidade pelo outro – por ele e para ele – de perto, de longe – distaaaaante – de costas, com as palmas das mãos encostadas e separadas, mas sempre como se estivesse de frente com alguém – aquele alguém – e, principalmente, ouvindo.... – até pelas costas...
E eu não estava surda, soube ouvir. Me virei nos trinta... claro que me chateei por não ter ouvido de mercador, mas compreendi sabiamente a sabedoria Pierre... traduzindo: olhos e ouvidos na cena, que o resto é resto!
Minha cena... todas as minhas cenas foram incríveis, cada uma especial de um jeito. Teve quem me surpreendesse e quem não me decepcionasse... me jogasse lá embaixo, no inferno – afinal, era um drama...
Me senti intimidada e refletida num espelho, que me respondia do avesso, me contrariando, me contradizendo... sem ser eu... e eu fiquei sem palavras, elas me fugiram da boca... e acabaram se revelando.... assim como a ameaça de gravação  – aquela – que ameaça se concretizar...
sábado, 3 de setembro de 2011

Alice in HD-land



Enfim...
Foi encantador, mágico e durou muito pouco a minha Alice na terra da high definition, terras de uma tela de tantas polegadas, que perdi as contas...
Every little thing she does is magic...
traduzindo...
Embora não fosse de contos de fadas a minha Alice, era como se fosse... em mim, ela lançou um encanto tremendo chamado personagem. E eu aprendi do que um personagem era feito e como fazer, com ela – mesmo tendo vivido meu um ano intenso entre 1999-2000 de teatro amador.
Nunca, nem nesse um ano, nem no ano da minha última apresentação em 2006, nunca eu vivi, o que vivi com essa personagem... E nunca pude me assistir assim de camarote – foi uma loucuuuura...
Eu não me vi ali – e não venham me dizer que é assim que o negócio funciona, senão.... enfim... continuando – não me reconheci... mesmo nos momentos em que eu jurava que ia me quebrar, eu não me quebrei – aqueles momentos sem ter texto pra dar, que a Alice se perdia de mim, mas lembram que eu me encontrava com ela pelo olhar?
Isso foi o que me salvou, ela foi quem me salvou. Eu sabia direitinho como fazer ela voltar pra mim... 
AHAAAAAAAAA... e meu remix de vozes? Pra quem não estava lá, não gravou, nem nunca ganhou uma exclusiva da Alice – pessoalmente falando... é... porque eu cedi ela, além dos domínios da aula, Jeam... incluindo o meu Edélcio fajuto... pronto, confessei – vou explicar como funcionou: existiam partes do texto em que a Alice nesse encontro que ela teve com o amor da vida dela aos 16 anos de idade – profundidaaaade, sabem bem como é... quando se tem 16 anos... – ela parava e contava como ele falava com ela.... então... enquanto todas as meninas, falavam no seu próprio tom de voz, a Alice saía de cena e o Felipe entrava – sentiram, como foi bom pra mim? 2 personagens em 1..... sem malícias, gracias....
Enfim.... depois ele saía e ela voltava, e, isso, no texto, se repetia ainda mais uma vez. Esse momento, por algum acaso, me veio a calhar  se não me engano  no meu primeiro trecho de gravação – justo aquele que quase me matou do coração. E esses primeiros momentos de Alice me mataram – e mataram muita gente que eu sei – de rir. Eu ri desde o momento que ela apareceu de relance até o fim...
Mas antes do fim, uma revelação: minha dupla inusitada e incrivelmente bem bolada ao acaso com a Taís. A personagem dela era o o oposto-inverso da minha Alice, enquanto ela era ligada no 220V – se bobiar, 500V – a minha Alice era devagar, quase parando... e quando elas davam as mãos, eu... não... a Alice pegava no tranco. Foi surreal... quem quer que visse  desconhecendo  ia pensar que a dupla dinâmica estava no script. E ela nasceu do improviso – saudável – da Alice, que, enquanto esperava pra gravar seu depoimento – Jeam disse isso à ela – viu a personagem da Taís e achou ela linda, chamou ela de linda e disse que queria ficar linda que nem ela.... – ok, essa foi uma das táticas dela pra puxar conversa com praticamente todas as meninas, mas só nessa, alguma delas deu atenção de verdade...
Nós duas nos completamos em cena – essa conclusão não foi só nossa, né Jeam Pierre – de uma tal forma que só fazíamos graça juntas – aqui, créditos totais à ele – e isso foi inédito pra mim – eu nunca vivi  pra me completar em outra pessoa em cena... e, muitos menos, com isso registrado pra assistir depois...
Também nunca tinha vivido pra ver outros abomináveis em cena, além dos que são da mesma selva que eu – da minha irmandade. Foi interessante... – queriam mais? Lamento, queridos, mas eu tenho uma audiência pra segurar...

Entra o locutor...
Aguardem as cenas do próximo capítulo....
Interrompendo a locução...

Ahhhhhhhhhhhhh.... não poderia me despedir, sem falar dessa cena: foi no segundo tempo de gravação e o Jeam gravava a gente de tudo quanto era ângulo, daquele jeito – consegui ouvi funk, quando escrevi... que loucuuuuura – enfim, Jeam-cinegrafista-Advogado do Diabo de ser... numa hora, ele tava filmando a Alice de canto – ela tava no canto da cena – e ele foi se movimentando, filmando e a Alice, tava se inclinando toda pra ver quem tava falando na cena e com o movimentar da câmera, a cabecinha dela foi se exibindo em slowmotion mode queda livre... Realiza, a pessoa se inclinando, a cabecinha dessa pessoa, ali no meio da linha do lado da tela, de repente, vai se insinuando e caindo... e caindo se insinuando? Essa foi a cena que eu menos esperava e uma das que mais me marcou... durou tudo muito pouco.... como tudo, naquela noite... mas já me disseram um dia – quando resmunguei que tudo que era bom, durava pouco – que dura o tempo necessário pra se tornar inesquecível. E foi inesquecível...

Volta a locução...
Agora podem aguardar as cenas dos próximos capítulos....

Making of do Making of

Making of do Making of
Eu queria falar, dizer tudo que sentia, vivia, guardar de algum jeito cada pequeno detalhe, que me transformava em uma mulher, uma Atriz. Assim, eu criei esse espaço... tão meu.... seu.... nosso.... Aqui, eu tenho a minha coxia em forma de livro... um livro aberto de minha autoria — Renata Cavalcante, 28 anos, carioca da gema, prazer.... — narrando os bastidores da minha memória viva desde a preparação de Jeam Pierre até me tornar atriz da Cia. Grito de Teatro de Santa Catarina, numa evolução que vai do querer ser profissional a ser oficialmente reconhecida como tal — o antes e o depois do DRT, aqui pra você!

Ibope