quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Da onde vêm os bebês.... as emoções?


Agora estávamos entre nós – os mesmos abomináveis-calouros de sempre – e o script não mudou... mas a dinâmica.... quaaanta diferença!
Aquele drama – o maior de todos – ganhou corpo, forma. Agora, partimos com ele pro corpo a corpo – e não é nada do que estão pensando hein.... HAM – divididos em duplas começamos a trazer ele pro nosso corpo – o verdadeiro condutor das emoções que fazem ele surgir, pra começo de conversa, mas vamos com calma, que ela vai ser looonga....
Pra efeito de início dela, começo dizendo que é... simples! É... são elas, as emoções que constroem os castelos de areia com os quais brincamos de viver – interpretar, sermos atores. Atuar é como moldar montinhos de areia para fazer castelos – faz de conta que fazemos de conta que são de verdade, nossas histórias de fazer rir ou chorar... – mas a nossa areia é diferente: ela é feita de emoções. Ao mesmo tempo ela é como a areia de verdade, porque ela também vem do chão, cercado pelo mar... das certezas – que quem controla é a nossa cabeça.
Muitos acreditam que as emoções vêm das nossas memórias, inventaram até uma tal de memória emotiva, um lugar onde teoricamente ficam registradas todas as emoções que já vivemos e da onde podemos tirar inspiração, senão a salvação na hora do aperto, em que você parece estar insensível e precisa se emocionar – afinal, nós, atores, também temos nossas crises, baixos.... E eu não duvido desse lugar, dessa fonte, acredito que só podemos interpretar aquilo que vivemos, e só interpretamos se vivemos, ponto.
Interpretar é viver, viver de novo, viver mais uma vez, entretanto, contudo, porém, todavia não é viver de novo – a não ser que estejamos repetindo uma cena, alterando o plano, mas enfim.... vamos voltar ao que interessa – é uma vida a mais, uma vida além da que se vive, do zero, à parte de você mesmo e tendo você como parte integrante ao mesmo tempo. É um labirinto profundo, onde se sabe como se entra, mas não se sabe como saí.... – até se sabe, quando se tem técnica e auto-controle, mas essa é uma conversa pra já, já....
E nesse nosso labirinto, dessa vez, não buscamos em alguém à frente, mas no toque de alguém, a fonte de inspiração para sentir e se emocionar, trazer pros olhos e a voz, a vida e a verdade que cada palavra queria dizer, todas as suas intenções e o seu drama.
E nessas duplas todas, eu de novo, fiquei com a bella loirinha Bella. E com ela, minha ironia e meu sarcasmo de antes se transformou numa seriedade misturada com agressividade, que deu pra sentir o quanto eu fiquei mexida com a história, vivi ela – se não me engano...
O grande desafio era trabalhar com o que o corpo trazia e como provocar ele e o do outro a trazer algo: o toque. Aprender a tocar e trazer vida à cena. Nos viramos num empurra-empurra – O empurra-empurra. E teve mais duelo, o duelo dos abraços desejados e indesejados, de se afastar e se aproximar sem querer, querendo e querendo, sem querer. Toda uma loucura – que só podia ser patrocinada por quem? – e o mais gostoso disso tudo é que não importava a dimensão ou o tamanho – se era empurrão ou empurrãozinho – funcionava do mesmo jeito que o papai ou a mamãe já fez alguma vez na vida, pra você balançar mais alto, ir mais alto.
Essa era a moral da história e foi daí que a minha ironia deu lugar a uma seriedade, que de tão séria, se tornou agressiva, porque tinha ali dor, mágoa, de ter sido abandonada, esquecida, mesmo diante de uma grande promessa – sentiram o drama?
Parece loucura, mas tudo faz sentido, a provocação faz todo o sentido do mundo, o toque, e a técnica que esteve ali o tempo, por trás dele, disfarçada de provocação, e no fim, toda ela em forma de dinâmica. Deu pra ver com ela o outro lado da moeda de uma tal vilã... que só era assim, porque estava ferida e por se sentir assim, tinha o impulso e a necessidade de ferir.
Por isso, fui quem fui antes, no duelo de abomináveis – velha guarda versus do amanhã – eu acho... não sei... Só sei que minhas intenções se transformaram – as primeiras, segundas, terceiras.... E a personagem se foi a mesma eu não sei... mas se foi, ela ganhou alma e eu, um castelo... lindo!
E nele tinha uma princesa loira dos olhos claros – errr não sei se eram verdes ou azuis, falha nossa – forte e destemida, além de mim, uma aprendiz de bruxa má, quase provando do próprio veneno e mordendo da própria maçã encantada.
Acabaram-se os empurrões, pescotapas, escoriações – mentiiira – e paramos pra discutir a relação. Já estava na hora né? Meses de relacionamento, tanta coisa entalada na garganta, que já não descia mais, então era melhor sentar e conversar, antes de acabar dando um tempo e acabando com tudo de uma vez – dramááática....
Enfim, sentamos pra colocar os pingos nos seus devidos is e não foi na hora, no fim de mais uma dinâmica em uma roda de fim de aula, dessa vez partimos pra mais de meio bloco de capítulo... de aula... em um embate acalorado pra colocar a cabeça no lugar – ou tentar... mais uma vez....
Se passou, portanto, uma semana entre o castelo de areia construído da base do empurrão e do faz de conta e nossa primeira DR prática da teórica. Isso mesmo: nossa DR foi toda de teorias em cima da técnica.
Sentamos dispostos a quebrar todos os tabus – pelo menos o Advogado do Diabo estava, né Jeam Pierre? – foram lançados na mesa: a bendita fonte de emoções – a memória emotiva- das próprias santas emoções e o misterioso subtexto, além de tudo da técnica e das emoções – que eu já falei taaaanto.
Mas afinal de contas: o que era o tal do subtexto? Até onde euuuu sabia, era a historinha por dentro da historinha, que eu criava pra dar vida à vida que tinha que viver. E acho, que aqui, parando e pensando – depois de todo o tempo real que se passou – esse mistério pra mim ainda continua um mistério. Porque ainda fica valendo pra mim, o feeling – a sensação – que tenho quando leio o texto em si, em primeiro lugar como expectadora e em segundo, como atriz – e criança – que busca descobrir o tesouro no meio das palavras, a aventura que ninguém nunca antes imaginou, que simplesmente o autor, diretor e o preparador nos dá aos pouquinhos e em pistas, que devemos perseguir. É brincar de descobrir, descobrir e brincar de sentir.
As emoções – eu sei que já falei demais delas hoje – são necessárias, mas antes de tudo devem ser vivas, e, acima de tudo, devem ser vividas. Nesse dia ou depois, não me lembro muito bem, eu só sei que me foi dito e repetido praticamente com as mesmas palavras, as máximas do Jeam – e eu acredito em todas elas; já acreditava, quando tinha ouvido só da boca dele e só veio à reforçar todas as outras bocas importantes que também disseram... – que no fim, é o corpo e o olhar que nos dão as ferramentas e que são elas.
Nossa alma se reflete através do olhar, e ela se alimenta do nosso espírito, que é espiritual, emocional, enfim.... e o corpo reage, quando não provoca todas as emoções que sentimos, ele prova o tamanho, a cor e a forma das emoções que nos tomam.
Naquela última quinta, partiu do desaforo, um abraço, e esse abraço soou mais desaforado que o próprio desaforo, o impulso de empurrar, de querer afastar ir pra longe, ir pra longe, enquanto no fundo se quer estar perto, tudo isso a história pedia, mas no fim, foram mandamentos da dinâmica, foi o corpo a corpo necessário pra chegar ao desequilíbrio, um desequilíbrio orientado, guiado – santo seja quem inventou a preparação de atores!
No fundo, no fundo, essa é que é a grande moral da história de ser ator/atriz: é aprender a se desequilibrar pra se equilibrar, perder o controle, sabendo se controlar, aprender a viver com script, o que nega todo o nosso natural impulso de viver de um improviso simples de viver... – sem querer ser redundante, mas já sendo...licença poética valei-me – porque todos os passos que você dá, daí em diante, não serão mais seus e serão dados com antecedência, com uma emoção pré-definida, pré-programada – no script.
Sem exagero meu, discutimos o ouro da mina: como encontrar os caminhos – esses caminhos todos que acabei de falar – que se encontram e se perdem na tal da técnica. Ela é famosa – não é atoa – é a grande manha, artimanha e malandragem que faz possível, uma vida ser vivida de forma tão bela, capaz de ser admirada e assistida nos seus mínimos detalhes...
E no fim de tudo, um novo desafio, novas parcerias se firmaram, novas duplas se formaram. E dessa vez, eu pude escolher meu cavalheiro andante, de armadura reluzente e cavalo branco – que já vinha de outros carnavais extra-classe – e minha escolha ser uma ordem – submetida ao poderoso chefão, é claro!
Grandes promessas se fizeram... em forma inédita de texto... aceno de marcação e direção de cena... e tempo.... a mais valiosa de todas as ferramentas, pra se trabalhar...

Making of do Making of

Making of do Making of
Eu queria falar, dizer tudo que sentia, vivia, guardar de algum jeito cada pequeno detalhe, que me transformava em uma mulher, uma Atriz. Assim, eu criei esse espaço... tão meu.... seu.... nosso.... Aqui, eu tenho a minha coxia em forma de livro... um livro aberto de minha autoria — Renata Cavalcante, 28 anos, carioca da gema, prazer.... — narrando os bastidores da minha memória viva desde a preparação de Jeam Pierre até me tornar atriz da Cia. Grito de Teatro de Santa Catarina, numa evolução que vai do querer ser profissional a ser oficialmente reconhecida como tal — o antes e o depois do DRT, aqui pra você!

Ibope